Uso de mensagens de texto para informar e ajudar no controle da pressão arterial e níveis glicêmicos
25/04/2023, 17:32 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Uma ação multifacetada realizada no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, busca se aproximar de pacientes da região de baixa renda em cuidados primários
Dia após dia, soluções inovadoras são propostas com o objetivo de maior controle da pressão arterial e níveis glicêmicos de pacientes. A tecnologia, em várias frentes, é uma grande aliada. Um recente estudo avaliou como intervenções por mensagens de texto poderiam impactar o comportamento de pessoas de cuidados primários de baixa renda.
Os resultados estão descritos no estudo Challenges of implementing a text message intervention to promote behavioral change in primary care patients with hypertension and diabetes, que acaba de ser publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), periódico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“O estudo faz parte de um projeto maior que consiste em uma intervenção multifacetada para melhorar o controle de pacientes com hipertensão e diabetes envolvendo estratégias de telessaúde”, explica Milena Marcolino, uma das autoras do artigo, médica cardiologista, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Coordenadora Científica do Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG.
O estudo se deu no Vale do Mucuri, em Minas Gerais, em dez municípios. Foram selecionados 136 pacientes entre 30 e 69 anos com diagnóstico de hipertensão e diabetes em acompanhamento nas 34 Unidades Básicas de Saúde participantes.
“Algumas revisões sistemáticas mostram que as mensagens de texto podem ser benéficas. A gente queria saber como seria a aceitação por essa população tendo em vista um alto nível de analfabetismo e em regiões com um baixo IDH”, diz Milena.
Foi desenvolvido um conjunto de 200 mensagens de texto sobre alimentação saudável, atividade física, adesão ao tratamento e mensagens motivacionais. Os participantes receberam de cinco a 8 mensagens por semana durante 6 meses. Ao final, eles responderam a um questionário para relatar sua satisfação e mudanças comportamentais.
“Alguns cuidados precisaram ser tomados no decorrer do estudo. Nós não podíamos usar um aplicativo como WhatsApp, por exemplo, porque várias das unidades rurais não tinham essa possibilidade. Por isso também, o SMS”, esclarece Milena.
Além disso, a autora e professora destaca o cunho educacional que o projeto tomou: “Às vezes o paciente do projeto era analfabeto, então quem lia as mensagens para ele e explicava era um filho ou vizinho, então isso foi muito legal de acompanhar”.
Outro fator importante do estudo foi a seleção de profissionais da área para a avaliação das mensagens de texto antes da implementação. Alguns pontos de comportamento e rotina são costumes regionais, por exemplo, um consumo elevado de carne de sol, rica em sódio, por isso foi de extrema importância a aproximação com pessoas da região.
Dos 136 pacientes incluídos no estudo, 117, ou seja, 86% da amostra, responderam ao questionário final.
“A maioria deles considerou as mensagens muito úteis e de fácil entendimento e mais de 80% reportaram que estavam com uma alimentação mais saudável, que as mensagens ajudaram nesse sentido”, diz Milena.
Um ponto de destaque nos resultados tem relação com atividade física. Pouco mais de 50% dos participantes falaram que não tiveram mudança em relação à prática de atividade física. Diante desse dado, Milena sugere uma possível explicação.
“É importante considerar que muitos deles trabalham em atividade rural, então já tem uma atividade laboral e diária. Talvez, por conta disso, a atividade extralaboral não tenha tido muita mudança”.
Outras importantes mudanças relatadas foram a melhora na qualidade da dieta, a sensação de ter mais energia para as atividades diárias e a redução nas porções de alimentação. Mais de 95% dos participantes responderam que recomendariam a pesquisa para familiares ou pessoas próximas.
Outras experimentações que incluem intervenções por mensagens de texto já estão sendo desenvolvidas, como Milena explica: “Estamos testando essa intervenção multifacetada incluindo as mensagens de texto e avaliando o impacto em níveis de pressão arterial, perímetro da cintura e testes físicos”. Além disso, como parte de uma colaboração com o Ministério da Saúde, está previsto que em breve um grupo de usuários do Sistema Único de Saúde irá receber as mensagens pelo ConecteSUS.