Principal remédio para o tratamento de pessoas em processo de parar de fumar está em falta no mercado nacional desde junho. Tabagismo aumenta consideravelmente o risco de morte no caso de pacientes com covid-19

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) se reuniram no dia 28/8 com a diretoria da indústria farmacêutica Pfizer no Brasil para debater o reabastecimento, no mercado nacional, do medicamento Champix, utilizado no combate ao tabagismo. Já são mais de dois meses sem o principal remédio para o tratamento de pessoas que estão em processo de parar de fumar.

No encontro, a Pfizer informou que solicitará à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como medida paliativa, uma autorização acelerada de importação do medicamento de países vizinhos, com base na Lei 14.006/20, que autoriza a importação e a distribuição de medicamentos e equipamentos contra a covid-19 já liberados para uso no exterior. Tanto a SBC quanto a SBPT se comprometeram em apoiar a farmacêutica junto à Anvisa.

“É fundamental dispor das alternativas terapêuticas disponíveis, assim como é imprescindível assegurar a continuidade do tratamento aos pacientes, uma vez que o tabagismo é grave fator de risco e piora o prognóstico daqueles que contraem a covid-19”, disse o presidente da SBC, Marcelo Queiroga. O presidente da SBPT, José Miguel Chatkin, também destacou que o tabagismo aumenta consideravelmente o risco de morte no caso de pacientes que contraem a doença.

O tartarato de vareniclina (princípio ativo do Champix) passa por período de desabastecimento temporário no Brasil devido a dificuldades com o processo regulatório para validar as plantas que fabricam o fármaco no exterior. De acordo com a coordenadora de ações relativas ao tabagismo da SBC e também diretora do programa de tratamento do tabagismo do Instituto do Coração (Incor), Jaqueline Scholz, não se pode relaxar na luta antitabaco, e a vareniclina é importante opção no tratamento de cessação do tabagismo. Segundo ela, o momento atual é muito propício para a adesão dos pacientes ao tratamento.

A Pfizer anunciou em junho passado que o medicamento estava em falta no Brasil e que a normalização do abastecimento se daria apenas em julho de 2021. A partir de então se iniciou uma série de cobranças de médicos que atuam no combate ao tabagismo para que a farmacêutica revertesse o problema.

De acordo com Jaqueline, uma das soluções levantadas enquanto durava o impasse Pfizer-Anvisa era pedir quebra de patente antecipada, mas a indústria já havia afirmado que a patente havia expirado e, segundo representantes do setor, as concorrentes têm dificuldade de fabricar genéricos por causa do processo de bioequivalência, e portanto é recomendado que os especialistas médicos considerem alternativas terapêuticas em benefício dos pacientes até que o contratempo seja solucionado.

Ainda durante a reunião com a SBC e a SBPT, o presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, agradeceu a oportunidade de esclarecer sobre as providências adotadas, assegurando que as sociedades médicas são fundamentais à difusão do conhecimento especializado e podem oferecer suporte técnico no sentido de sensibilizar as autoridades competentes acerca das particularidades do caso em discussão, auxiliando na busca de alternativas para a continuidade do atendimento aos pacientes.

Chatbot

A SBC vem adotando estratégias visando colaborar para o enfrentamento da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus e informar a sociedade acerca de medidas preventivas, especialmente para aqueles que têm comorbidades associadas a doenças cardiovasculares e ao tabagismo. Uma dessas estratégias é um chatbot, assistente virtual criado para auxiliar as pessoas a pararem de fumar ou reduzir o consumo. Por meio da plataforma lançada em maio, fumantes podem enviar dúvidas para receber orientações sobre o tratamento. A ferramenta está disponível no portal da entidade.