Saúde dos atletas durante tempos de pandemia

13/05/2021, 11:55 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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  • Claudio Tinoco Mesquita - Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense - Editor Chefe IJCS

Fundamentação: A pandemia SARS-COV2 afetou profundamente a disponibilidade para treinar e competir para atletas profissionais e recreativos. A necessidade de distanciamento social, os períodos de restrição das atividades em academias e ao ar livre, as consequências físicas e mentais do estado alterado durante a pandemia, todos têm demonstrado impacto negativo no condicionamento físico, porém não se têm estudos suficientes do curso da doença em populações fisicamente ativas no nosso meio. Os autores compararam as taxas observadas e esperadas de hospitalização por COVID-19 e estabelecer relações entre dados demográficos e características esportivas de uma amostra de atletas e a taxa de infecção por COVID-19.

Metodologia: O estudo usou amostragem transversal da população por meio de um questionário online enviado para coletar dados de atletas recreativos e profissionais. Com base em autorrelatos, os atletas foram agrupados em casos COVID-19 e não COVID-19. Para diminuir o viés de detecção para cada quatro pacientes que relataram ter sido hospitalizados, um paciente virtual adicional foi adicionado à amostra. A taxa de hospitalização observada (THO) foi comparada com a taxa de hospitalização esperada para a idade (THE) a partir dos dados da literatura de séries disponíveis. Um modelo multivariado (MM) foi desenvolvido para estabelecer relações independentes entre a prevalência de casos COVID-19 e as variáveis ​​mencionadas acima. O nível de significância estatística foi definido para um valor de p <0,05.

Resultados: Foram analisadas respostas de 1.701 indivíduos. O grupo COVID-19 foi composto por 99 (5,8%) indivíduos, dos quais quatro referiram ter sido hospitalizados. THO e THE foram respectivamente de 5,0% e 18,1% (p = 0,001). No sexo feminino MM (OR = 2,02, IC 95% 1,28 a 3,19), ciclismo (OR = 2,91, IC 95% 1,58 a 5,39), natação (OR = 2,97, IC 95% 1,14 a 7,74) e triatlo (OR = 2,10, IC 95% 1,13 a 3,91) foram independentemente associados a COVID-19.

Conclusão: As taxas autorreferidas de hospitalização por COVID-19 entre atletas foram muito mais baixas do que o esperado. A prevalência de casos positivos de COVID-19 foi independentemente maior para ciclistas, triatletas e nadadores do que para corredores.

Impacto Clínico: Nesta pesquisa, a taxa de hospitalização observada para COVID-19 foi menos da metade da taxa esperada. Diversas são as causas que podem estar associadas a estes achados, porém dados de estudos anteriores demonstraram a aptidão cardiorrespiratória já se mostrou benéfica na proteção de diversas doenças, tais como: doença arterial coronariana, neoplasias, depressão, osteoporose e mesmo em menor risco de quadros infeciosos mais intensos. A possibilidade de que uma melhor aptidão cardiorrespiratória possa auxiliar na proteção das complicações da COVID-19 é extremamente interessante, especialmente no momento em que a disponibilidade de vacina ainda é limitada. Outro efeito positivo da atividade física é auxiliar no controle da obesidade, que é já considerada como um dos maiores fatores de risco para complicações graves da COVID. São dignos de menção estudos que mostram que atletas seniores mantem uma alta atividade antiinflamatória celular e humoral pós-exercício em comparação com os controles. Em uma ampla gama de níveis de desempenho e idades, ser um atleta parece diminuir o risco de doenças infeciosas respiratórias, como COVID-19, em aproximadamente 28% (Matthews CE, Ockene IS, Freedson PS, Rosal MC, Merriam PA, Hebert JR. Moderate to vigorous physical activity and risk of upper-respiratory tract infection. Med Sci Sports Exerc. 2002;34(8):1242-8).

Apesar das limitações metodológicas da pesquisa, como a resposta de questionário sem confirmação através de exames laboratoriais de forma rotineira, e a presença de um grupo controle prospectivo controlado, o estudo sugere hipóteses e reforça a importância de novas pesquisas sobre o tema. Além disso chama a atenção que os atletas que se exercitaram em esportes que se associam a menor distanciamento social, como o ciclismo e triatlo, tiveram maiores frequências de COVID-19. Isto também nos credencia a reforçar a necessidade de uso de máscaras, medidas de higiene pessoal e distanciamento como formas de proteção individual e coletiva, em especial frente à limitação das vacinas. Congratulamos os autores e estimulamos a outros pesquisadores a buscarem mais respostas para as intricadas relações entre a COVID-19 e o exercício físico.

Referências:

  1. SILVA, Fabricio Braga da and FONSECA, Beatriz and DOMECG, Fernanda and FACIO, Marcelo Riccio and PRADO, Christiane and TOLEDO, Leandro and TUCHE, Walter. Athletes Health during Pandemic Times: Hospitalization Rates and Variables Related to COVID-19 Prevalence among Endurance Athletes. Int J Cardiovasc Sci [online]. 2021, vol. 34, n. 3, [cited 2021-05-10], pp.274-283. Available from: . ISSN 2359-4802.
  2. ARAÚJO, Claudio Gil Soares de. Physical Activity, Exercise and Sports and Covid-19: What Really Matters. Int J Cardiovasc Sci [online]. 2021, vol. 34, n. 2, [cited 2021-05-10], pp.113-115. Available from: . ISSN 2359-4802.
  3. CRIVELARI, Nathalie Cristina and OLIVEIRA, Gisele Queiroz de and PARK, Clarice Hyesuk Lee and RIEMMA, Gregorio da Cruz and COSTA, Isabela Bispo Santos da Silva and LACERDA, Marcus Vinícius Guimarães de and OLIVEIRA, Glaucia Maria Moraes de and DARRIEUX, Francisco Carlos da Costa and SACILOTTO, Luciana and HAJJAR, Ludhmila Abrahão. Severe Cardiovascular Complications of COVID-19: a Challenge for the Physician. Int J Cardiovasc Sci [online]. 2020, vol. 33, n. 5, [cited 2021-05-10], pp.572-581. Available from: . ISSN 2359-4802.
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