Entenda qual é a relação entre os níveis de religiosidade e espiritualidade e a saúde cardiovascular
17/12/2023, 20:16 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Estudo compara a ocorrência de comorbidades cardiovasculares entre
grupos mais e menos religiosos, classificados por escalas
internacionalmente reconhecidas.
A crença de indivíduos a respeito da religiosidade e espiritualidade (R/E) pode impactar em sua saúde cardiovascular? Um recente artigo, divulgado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, busca responder essa pergunta.
le="background-color: transparent;">O estudo Religiosity and Spirituality: The Relationship Between Psychosocial Factors and Cardiovascular Health analisa 237 pacientes atendidos em quatro centros hospitalares de Sergipe em 2022. Eles foram separados em subgrupos de acordo com seus níveis de R/E, com o objetivo de comparar a ocorrência de comorbidades cardiovasculares e eventos clínicos.
Duas escalas numéricas de avaliação de R/E, validadas internacional e nacionalmente, foram utilizadas como critério de divisão dos grupos: Duke University Religion Index (DUREL) e Brief Multidimensional Measure of Religiousness/Spirituality (BMMRS).
“A análise determinou dois clusters. O cluster 1 apresentou menores níveis de R/S segundo as escalas usadas em relação ao cluster 2 ", diz José Icaro Nunes Cruz, médico pela Universidade Federal de Sergipe e autor do artigo.
Ele comenta que o interesse pelas possíveis relações entre R/E e saúde cardiovascular surgiu a partir de um projeto de mestrado, conduzido pela Dra. Adelle Cristine Lima Cardozo, e que a temática é cada vez mais presente em encontros científicos e diretrizes de saúde.
“Existiria um vínculo entre dimensões espirituais da nossa existência e a homeostase biológica? Poderia a R/E influenciar positivamente vias metabólicas e mecanismos regulatórios do corpo humano? São dúvidas importantes cujas respostas ainda são incertas e acreditamos que seja por isso que a comunidade científica tenha voltado a atenção para essas questões cada vez mais”, afirma José Icaro.
O grupo que apresenta menores níveis de R/E demonstra maiores frequências de tabagismo, consumo de álcool, hipertensão, dislipidemia e ocorrência prévia de síndrome coronariana crônica e infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico. As mulheres formam a maioria no grupo com maiores níveis de R/E, com uma presença maior que 80%.
“Atualmente já existem recomendações oficiais da abordagem de aspectos relacionados à R/E no consultório de Cardiologia, presentes na Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular de 2019, tendo em vista que a atenção multidimensional do paciente pode influenciar no sucesso do seu tratamento”, ressalta o autor.
Uma ferramenta de triagem quantitativa para R/E, com a finalidade de identificar pacientes em risco de sofrimento espiritual, é proposta no artigo e deixa caminhos para pesquisas futuras dentro da mesma linha.
“Após termos observado relações entre altos níveis de R/E e menores frequências de comorbidades cardiovasculares, o próximo objetivo será ampliar o tamanho amostral e, possivelmente, redefinir a metodologia para um estudo observacional de seguimento longitudinal prospectivo, com o fim de estabelecer resultados ainda mais sólidos”, diz José Icaro.