Nova Diretriz de Chagas da SBC dialoga com especialistas, mas também com o público leigo
28/07/2023, 12:57 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Diretriz atualiza conhecimentos e informações; 1,2 milhão de
brasileiros convivem com a doença
Após um hiato de 12 anos desde a edição anterior, de 2011, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) lançou, no último mês de junho, uma nova diretriz sobre a Doença de Chagas.
Considerada a mais letal entre as chamadas doenças cardiovasculares negligenciadas, a Doença de Chagas atinge 1,2 milhão de brasileiros e mais de 7 milhões de pessoas ao redor do mundo.
Com este documento, que concentra uma compilação de estudos clínicos e recomendações de políticas em saúde pública, a OMS propõe erradicar a doença até 2050.
“Nesse sentido, nós fizemos uma diretriz que provê ensinamentos e direcionamentos para esses três públicos: os médicos e paramédicos, diretamente responsáveis pelos doentes; aqueles que aplicam esses conceitos em termos de saúde pública, que são os gestores, e, finalmente, os próprios pacientes, que muitas vezes vão ter acesso pela internet ou qualquer outro veículo de comunicação as informações trazidas pela diretriz”, explica um dos coordenadores da Diretriz, o cardiologista José Antônio Marin Neto.
Apesar de que nos últimos 40 anos tenha se reduzido drasticamente o número de infectados no país a partir da erradicação da transmissão pelo vetor e do controle da transmissão nos bancos de sangue – eram 16 milhões em 1980 –, a doença segue apresentando elevado índice de letalidade. A principal causa é a falta de diagnóstico. Setenta por cento dos pacientes com Doenças de Chagas desconhecem o problema.
O contágio é feito por meio da transmissão do vetor (zonas rurais e regiões mais carentes), transmissão por via congênita e por consumo de alimentos, contaminados com o parasita, principalmente o açaí e o caldo de cana in natura.
Embora continue ocorrendo de forma predominante nas regiões mais distantes, o contágio pela doença de Chagas vem adquirindo cada vez mais um perfil urbano.
“Existe nitidamente um aumento significativo da contaminação via oral, que pode ocorrer em zonas urbanas. Nestes casos, o risco de uma contaminação mais aguda e letal é agravado”, pontua o cardiologista, Anis Rassi Junior, um dos coautores do documento.
Rassi Junior destaca, ainda, que o consumo da carne de alguns animais, como aves, não oferece risco de contaminação, por mecanismos de defesa próprias desses mesmos animais.
Essa nova realidade no contexto da Doença de Chagas levou a SBC a criar uma nova diretriz, substituindo a que foi lançada em 2011. A principal preocupação, segundo Rassi Junior, é incentivar o diagnóstico para que os pacientes possam ser tratados o mais precocemente possível.
“Cerca de 70% dos infectados não sabem que estão contaminados. É importante o empenho em diminuir esse percentual para que o tratamento antiparasitário possa ser oferecido para a população “, justifica.
Para Marin Neto, por sua vez, a Diretriz tem um importante objetivo, que é conscientizar os cardiologistas, infectologistas e médicos de assistência primária. “A Doença de Chagas pode ser curada se tratada precocemente”, finaliza.