Pesquisa investiga fatores de risco cardiovasculares em crianças com cardiopatia congênita
17/11/2022, 23:06 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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O estudo ressalta a importância de hábitos preventivos antes
da ação medicamentosa
Uma pesquisa de grandes proporções investigou o perfil lipídico de crianças com cardiopatia congênita. Pela primeira vez no Brasil, foram avaliados um grupo com mais de 240 pacientes nessas condições e consideradas mais de 60 variáveis de hábitos, dentre elas nutrição por inquérito alimentar, atividade física por PAC-C, exames laboratoriais (lípides, glicose, HbA1c, PCR) e aterosclerose subclínica (espessura medio-intimal e velocidade de onda de pulso).
Considerando que esse público pode ter uma maior probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares na idade adulta, o objetivo foi a identificação precoce dos fatores de risco.
A investigação pertence ao artigo HDL-Cholesterol in Children and Adolescents with Congenital Heart Disease, publicado na última edição da International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), periódico internacional da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
O artigo faz parte de um estudo de fatores de risco cardiovasculares em pacientes com cardiopatia congênita, chamado Floripa Child Study. “Uma crença equivocada que se estendeu por muitos anos na área médica é a de que crianças com cardiopatia congênita não desenvolvem doença coronariana”, diz Isabela Back, professora da Universidade Federal de Santa Catarina e membra fundadora do Comitê de Prevenção Cardiovascular em Crianças da Sociedade Interamericana de Cardiologia.
Isso se tornou uma questão de grande preocupação na cardiologia pediátrica, e um dos fatores que influenciaram o presente estudo. A investigação partiu de uma análise de correlação com as diferentes variáveis, que ainda consideravam fumo ativo e passivo, exames físico e história clínica. A quantidade de interferências sobre os fatores de risco destaca a pesquisa dentre as existentes realizadas sobre a mesma temática.
No Brasil, é a primeira de grandes proporções a investigar fatores de risco cardiovasculares em crianças com cardiopatia congênita. No decorrer do estudo, não foram encontradas associações de risco com o LDL colesterol, colesterol total ou até mesmo hipertensão. Mas o HDL colesterol se mostrou relevante.
“De maneira geral, os resultados apontam para uma média de HDL colesterol boa, com 51,2 mg/dL. Porém, 33% das crianças apresentaram níveis baixos da lipoproteína de baixa densidade, associados com inflamação pela proteína C-reativa e indícios de triglicerídeos elevados”, diz Isabela.
Baixos níveis de HDL colesterol estão associados à situação de enfermidades crônicas: “nos nossos pacientes é um pouco difícil determinar quanto desse dado não é influenciado pela própria doença, por ser uma doença que tem caráter inflamatório”, ressalta Isabela.
Portanto, o HDL é considerado uma proteína de fase aguda negativa, ou seja, altos níveis de inflamação determinam baixos níveis de HDL. De forma clínica, os resultados comprovam que é preciso evitar qualquer tipo de processo inflamatório em crianças com cardiopatia congênita.
Os hábitos são mais importantes nesse controle do que qualquer medida medicamentosa. A pesquisadora destaca a necessidade de uma ótima nutrição, com o consumo de alimentos anti-inflamatórios e o hábito da atividade física.
“Essas crianças precisam passar por uma triagem de fatores de risco cardiovasculares mais rigorosa do que as crianças da população geral, porque elas já possuem fatores de risco, como aterosclerose subclínica e dislipidemia”, afirma Isabela.