O que acontece com nossas crianças e jovens obesos?
O que acontece com nossas crianças e jovens obesos?

13/11/2020, 15:15 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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Crianças obesas têm quatro vezes mais chance de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação com crianças com índice de massa corporal (IMC) dentro do padrão normal, de acordo com um estudo inglês publicado no Journal of the Endocrine Society. [1]

Tanto a obesidade quanto o diabetes são problemas de saúde epidêmicos, bem conhecidos da população adulta. A obesidade afeta cerca de 12,7 milhões de crianças e adolescentes nos Estados Unidos. No Brasil, 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos são considerados obesos, de acordo com os critérios adotado pela OMS para classificar a obesidade infantil. Um motivo a mais de preocupação, já que a OMS também alerta para uma elevação dos índices da doença nos países de baixa e média renda. No mundo, os dados mostraram que em apenas quatro décadas o número de crianças e adolescentes obesos saltou de 11 milhões para 124 milhões.[2] O DM2 em jovens também foi diagnosticado com mais frequência e em idades mais jovens do que normalmente visto antes historicamente. Com a atual geração de jovens nos Estados Unidos sendo significativamente mais acima do peso do que as gerações anteriores, e o fato de que o DM2 está cada vez mais aparente em idades mais jovens, ambas as condições representam problemas de saúde pública significativos.

Entre as abordagens propostas para enfrentamento essa condição, encontra-se o estudo SEARCH for Diabetes in Youth. É um estudo americano, multicêntrico, com o objetivo de entender melhor a relação do diabetes entre crianças e adolescentes.[3] O estudo está sendo conduzido em 5 estados - Carolina do Sul, Ohio, Colorado, California e Washington. Foi lançado em 2000 com uma perspectiva de conclusão para 2020. Dados preliminares já apontam que 3.600 casos de diabetes tipo 2 foram diagnosticados em crianças e adolescentes obesos, por ano, no período entre 2002 e 2005.

Na Europa dados publicados são semelhantes, em 2017, num estudo especificamente desenhado para identificar crianças diabéticas no Reino Unido, nota-se uma associação semelhante de taxas de diabetes e obesidade entre crianças e adolescentes.1

“Como a prevalência de obesidade e sobrepeso aumentou rapidamente, um número crescente de crianças e adultos jovens foi diagnosticado com diabetes no Reino Unido desde o início dos anos 1990; atualmente uma criança com obesidade enfrenta um risco quatro vezes maior de ser diagnosticada com diabetes aos 25 anos do que uma criança com peso normal.” Entretanto, como era de se esperar, não foi encontrada uma associação entre obesidade e aumento da incidência de diabetes tipo 1, ligado a doenças autoimunes subjacentes.

Esses estudos concluem mostrando também que outras comorbidades típicas da idade adulta passaram a ser encontradas na população pediátrica, incluindo hipertensão, esteatose hepática não alcoólica, apneia obstrutiva do sono e dislipidemias.[4]

O denominador comum de todos esses achados vem de um balanço energético positivo devido ao excesso de ingestão calórica em comparação com o gasto energético, combinado com uma predisposição genética para o ganho de peso.

O diabetes tipo 2 representa um fardo pesado para a sociedade, uma vez que é altamente prevalente e o tratamento é caro. Estimativas indicam que um em cada 11 adultos tem diabetes tipo 2, ou cerca de 415 milhões de pessoas em todo o mundo. Uma vez que diabetes tipo2 e obesidade podem ser prevenidos desde o início da vida, políticas de saúde devem surgir nos próximos anos na prevenção do diabetes, e consequentemente, da obesidade infantil. Entretanto, pensando em propostas para enfrentar esse problema, as intervenções isoladas no estilo de vida da criança mostram um benefício discreto, principalmente dentro do contexto de uma família onde os adultos também são obesos. O fato de um dos pais ser diabético aumenta o risco de obesidade entre os filhos, independentemente do nível de escolaridade dos pais e constitui um sinal de alerta e demanda intervenções desde uma idade muito precoce da criança.[5]

O risco de jovens obesos desenvolverem diabetes tipo2, e evoluírem com um controle deficiente dessa condição deve servir de meta para encontrar e diagnosticar precocemente esses indivíduos, rastreando os grupos de risco, incluindo obesos, minorias étnicas mais susceptíveis e história positiva de diabetes tipo 2 na família. Políticas públicas especificamente desenhadas para esse propósito precisam e merecem ser mais desenvolvidas.

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[1] Abbasi A, Juszczyk D, van Jaarsveld CHM, Gulliford MC. Body Mass Index and Incident Type 1 and Type 2 Diabetes in Children and Young Adults: A Retrospective Cohort Study. J Endocr Soc. 2017 May 1; 1(5): 524–537. [2] Pulgaron ER, DelamaterAM. Obesity and Type 2 Diabetes in Children: Epidemiology and Treatment. Curr Diab Rep. 2014 August ; 14(8): 508 [3] https://www.searchfordiabetes.org/dspHome.cfm [4] Kumar S, Kelly AS. Review of Childhood Obesity: From Epidemiology, Etiology, and Comorbidities to Clinical Assessment and Treatment. Mayo Clin Proc. 2017 Feb;92(2):251-26 [5] Tojjar J, Norström F, Myléus A, Carlsson A. The Impact of Parental Diabetes on the Prevalence of Childhood Obesity. Child Obes. 2020 Jun;16(4):258-264. doi: 10.1089/chi.2019.0278. Epub 2020 Apr 9.

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