O papel dos exames de imagem no monitoramento da função cardiovascular em pacientes oncológicos
27/06/2023, 11:44 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Revisão sistemática detalha métodos que possibilitam diagnosticar disfunções no coração de pacientes em tratamento contra o câncer
O sucesso do tratamento oncológico aumenta a sobrevida de indivíduos e possibilita novas perspectivas para os pacientes. Por outro lado, cada vez mais torna-se evidente que é preciso investigar efeitos colaterais diversos que podem surgir do combate ao câncer.
Terapias oncológicas a curto e longo prazo podem acarretar complicações cardiovasculares e para monitorar, ou até mesmo diagnosticar a disfunção ventricular em pacientes com câncer, os métodos de imagem mostram-se fundamentais.
A temática é o assunto central do artigo divulgado na última edição da ABC Heart Failure & Cardiomyopathy, publicação do Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Trata-se do estudo Critical Analysis and Applicability of Imaging Methods in Monitoring and Diagnosing Ventricular Dysfunction in Patients with Cancer, uma revisão sistemática.
Claudio Mesquita, cardiologista, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e principal autor do artigo explica possíveis complicações de pacientes em tratamento contra o câncer. “Um dos principais efeitos colaterais da quimioterapia no sistema cardiovascular é a insuficiência cardíaca. O aparecimento dessas complicações pode levar à interrupção do tratamento quimioterápico, além de comprometer o controle e a cura do câncer”, afirma o médico.
De maneira geral, o acompanhamento dos pacientes por meio de métodos de imagem é crucial para evitar desfechos cardiovasculares negativos. A proposta da revisão surge dessa visão.
“Nós fizemos uma ampla revisão sobre o tema e mostramos como usar o ecocardiograma, a tomografia computadorizada, a ressonância, a cintilografia e o PET-CT para monitorar e manejar os pacientes durante o tratamento do câncer”, diz Claudio Mesquita.
Como o artigo mostra, o exame mais utilizado atualmente é o ecocardiograma, um dos mais antigos na cardiologia. Outros métodos complementam em situações em que esse exame não fornece um panorama cardiovascular completo.
“A cintilografia miocárdica, por exemplo, é útil para detectar complicações isquêmicas que a radioterapia e algumas quimioterapias podem trazer”, explica o cardiologista.
O artigo ressalta que é fundamental a realização de uma avaliação clínica dos pacientes antes da quimioterapia, com o objetivo de determinar o risco cardiovascular. A depender do risco, exames laboratoriais e de imagem podem ser solicitados periodicamente para acompanhar os efeitos do tratamento no coração.
“É importante dizer que esse monitoramento pode precisar ser continuado por anos após o término do tratamento do câncer e precisa ser feito com muito rigor”, Claudio afirma.
O autor do estudo compartilha ainda que a conduta de tratamento e monitoramento de pacientes com câncer devem envolver passos já conhecidos - e reafirmados no estudo. Porém, afirma que a falta de conscientização de profissionais da saúde e das equipes ainda são obstáculos para a realização de protocolos mais modernos.
“A SBC tem publicado artigos, feito webinars, cursos e capacitações para enfrentar este ponto. Também existem dificuldades de acesso a muitos exames pelos pacientes, em especial no Sistema Público de Saúde (SUS)”, ele diz.
A organização do SUS, que é utilizado pela maior parcela da população brasileira, é fundamental para a melhoria nos resultados do tratamento do câncer em longo prazo. Inclusive para além dos fatores oncológicos, como também os cardiovasculares, como explicita o artigo.