O consumo de óleo de coco aumenta o LDL colesterol: uma revisão sistemática e meta análise

30/01/2020, 15:21 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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Revisores: Helison do Carmo e Andrei Spósito

Fundamentação: em mais uma oportunidade é levantada a discussão sobre a consumo de óleo de coco e seus efeitos associados aos fatores de risco cardiovascular (RCV). Desta vez, endossado pela revisão sistemática e meta-análise publicada pelo periódico Circulation para American Heart Association (AHA) em janeiro de 2020 (1). A revisão se baseou na comparação entre o consumo de óleo de coco e de óleos de vegetais classificados como não tropicais (nontropicals vegetables) e.g. óleos de milho, canola, soja, girassol, oliva e amendoim, por apresentarem fontes e tipos de gordura de natureza bioquímica distinta, correspondendo em sua maioria por moléculas insaturada e poli-insaturada. O óleo de coco se contrasta por possuir elevada quantidade de gordura saturada (90%), característica que o torna singular e alvo de certas inconsistências científicas. Exemplo frequente, está acerca do processo de metabolização lipídica, o qual não se há um consenso sobre a sua via preferencial de metabolização estar direcionada em maior parte pelo transporte por quilomícrons, promovendo diretamente o aumento dos níveis de lipoproteínas de elevada densidade associada ao colesterol (LDL-c) circulante, ou se destinado a beta-oxidação, provendo o aporte energético. Entretanto, a partir do ponto de vista cardiovascular, o que se pode tirar de concreto sobre análises de dados clínicos? Para responder esta pergunta, o estudo reuniu trabalhos clínicos com foco no impacto sobre os fatores de RCV.

Metodologia: na etapa inicial de inclusão dos estudos sobre os efeitos do óleo de coco, foram identificados 837 artigos relevantes ao tema. Contudo, a despeito das características consideradas elegíveis para meta-análise, apenas 16 publicações correspondentes a 17 estudos clínicos (segmento temporal de 1985 a 2018) atenderam os critérios de inclusão. De forma breve, foram elegíveis: estudos controlados com uso óleo ou gordura de coco; consumo realizado por indivíduos adultos; ao menos duas semanas intervenção; avaliação de marcadores inflamatórios; dados de medidas antropométricos; e de fatores de RCV. Bancos de dados eletrônicos, tais como; PubMed, SCOPUS, Cochrane Central, e Web of Science foram acessados para a busca de estudos publicados até junho de 2019. Os dados foram agrupados, de acordo com métodos de combinação com efeitos aleatórios, muito embora, subanálises tenham sido realizadas através da estratificação e pareamento para marcadores específicos de RCV, tendo em vista a grande heterogeneidade apresentada entre os estudos. Por ordem de relevância dos objetivos determinados, seguiram as seguintes varáveis comparativas: LDL-c > HDL-c > colesterol total (CT) > triglicérides > índice de gordura corporal > marcadores inflamatórios > glicemia.

Principais Resultados: a meta-análise dos dados de estudos reunidos (n=16) identificou que o consumo de óleo de coco aumentou de forma significativa os níveis de LDL-c em 10,47 mg/dL (95% IC; 3,01– 17,94; I2 = 84%) comparado ao consumo de óleo de vegetais não tropicais. Este aumento foi acompanhado pelos níveis de HDL-c em 4,00 mg/dL (95% IC; 2,26–5,73; I2 = 72%) e de CT em 14,69 mg/dL (95% IC; 4,84–24,53; I2 = 91%). Mesmo quando os estudos foram agrupados em: apenas randomizados (n=14), ou apenas aqueles que buscavam perda de peso (n=14), as dosagens lipídicas de LDL-c, HDL-c e CT séricas foram superiores com o consumo de óleo de coco. Em contrapartida, não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma forma de avaliação de triglicérides, assim como, para adiposidade, glicemia e de marcadores inflamatórios.

Conclusão: os resultados encontrados na meta-análise a partir da revisão sistemática, suportam que o consumo de óleo de coco deverá ser realizado com precaução com base em seus efeitos no aumento do LDL-c. Em corroboração com os respectivos resultados, pesquisadores da Nova Zelândia haviam antecipadamente chamado a atenção ao afirmarem de forma genérica sobre o impacto do consumo de óleo de coco e efeitos nos fatores para RCV em 2016 (2). Portanto, ainda que a magnitude da heterogeneidade tenha se mostrado considerável, estes são os dados clínicos mais confiáveis até o presente momento.

Impacto Clínico na Opinião do Revisor: muito embora os aspectos nutritivos e funcionais favoráveis sejam relacionados ao óleo de coco, do ponto de vista clínico existe uma relação de causalidade entre o consumo de alimento fonte com elevada concentração de gordura saturada e aumento dos níveis de LDL-c. Em termos de associação a eventos cardiovasculares, a meta-análise não aponta para tais desfechos, ainda que, não esteja claro se o aumento concomitante do HDL-c, mesmo que em menor grau, possa atuar como mediador dos efeitos RCV. No entanto, a recomendação para o consumo moderado do óleo de coco seria indicada, essencialmente, a aqueles pacientes com fatores de RCV prévios.

Referências:

  1. Neelakantan N, Seah JYH, van Dam RM. The Effect of Coconut Oil Consumption on Cardiovascular Risk Factors: A Systematic Review and Meta-Analysis of Clinical Trials. Circulation. 2020. 2. Eyres L, Eyres MF, Chisholm A, Brown RC. Coconut oil consumption and cardiovascular risk factors in humans. Nutr Rev. 2016;74(4):267-80.
  2. #dislipidemia

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