O consumo de alimentos ultraprocessados cresceu durante a pandemia da COVID-19, aponta artigo
O consumo de alimentos ultraprocessados cresceu durante a pandemia da COVID-19, aponta artigo

31/10/2023, 18:39 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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Quais foram os impactos da pandemia da COVID-19 no padrão alimentar das pessoas? Um estudo buscou investigar a associação entre fenótipos metabólicos e mudanças no consumo alimentar durante a pandemia e seus impactos na saúde de mulheres.

“Poucos trabalhos foram realizados a fim de avaliar o impacto do consumo de alimentos ultraprocessados em mulheres com excesso de peso e de diferentes fenótipos metabólicos, durante a pandemia de COVID-19, considerando simultaneamente os indicadores dietéticos e a avaliação qualitativa da dieta de forma comparativa entre os períodos pré e pós-pandemia”, afirma Glaucia Maria Moraes de Oliveira, uma das autoras do estudo Food Consumption and Health Outcomes in Women During the COVID-19 Pandemic que foi publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS).

A pesquisa avalia a influência da ingestão alimentar de alimentos processados e ultraprocessados ​​na dieta e composição corporal de mulheres obesas com diferentes metabolismos, associando-os a possíveis problemas de saúde durante a pandemia de COVID-19.

“O objetivo do estudo foi avaliar se houve mudança no consumo alimentar de mulheres com excesso de peso corporal durante a pandemia. E comparar o consumo alimentar durante a pandemia com o consumo alimentar anterior ao decreto da pandemia”, complementa Glaucia.

O estudo teve início num período anterior à pandemia. Inicialmente, foram coletados, pessoalmente, dados socioeconômicos, dietéticos, bioquímicos e antropométricos de 554 indivíduos voluntários.

Em março de 2021, já durante o período de isolamento social, os mesmos indivíduos foram reavaliados on-line, por meio de formulários. Após a definição de critérios para inclusão e exclusão, de acordo com o novo objetivo da análise, foram selecionadas 491 mulheres, sem diagnóstico de doença crônica ou acompanhamento nutricional prévio.

Para iniciar a investigação, elas foram caracterizadas em dois diferentes grupos metabólicos, de acordo com a classificação NCEPATP III, que define riscos diferenciados relacionados a alterações metabólicas em pessoas obesas.

Dessa forma, foram divididas entre mulheres metabolicamente saudáveis (MHO), com IMC superior a 30 kg/m2, sem hiperglicemia, dislipidemia, hipertensão, ou processos inflamatórios; e metabolicamente não saudáveis (MUHO), de acordo com a presença de pelo menos 3 dos seguintes critérios: circunferência da cintura maior do que 88 cm, taxa de triglicerídeos maior ou igual a 150 mg/dL, colesterol HDL menor que 50 mg/dL, taxa de glicose no sangue maior que 110 mg/dL e pressão arterial maior ou igual a 130/85 mmHg.

No grupo MUHO, o estudo observa que a ingestão energética de alimentos ultraprocessados intensificou-se até chegar a uma taxa de 30% a 45% de toda a alimentação diária durante a pandemia. No grupo MHO, o consumo de alimentos ultraprocessados ​​foi inferior a 15% e limitado a 30% da ingestão diária de energia.

Um estudo publicado na J Am Coll Cardiol, em 2021, associou o consumo de ultraprocessados com o risco aumentado de eventos cardiovasculares e mortalidade em pessoas com sobrepeso. Foi concluído que, para cada porção diária adicional de alimentos ultraprocessados, houve um aumento de 9% na mortalidade.

“Os estudos citados nesse artigo mostraram que o consumo desses alimentos atingiu faixas de consumo muito amplas, que oscilaram entre 15%, 20% e 60% do consumo energético diário. A falta de parâmetros para mensurar um consumo minimamente “seguro” para ultraprocessados, ou seja, que seja suficiente para não desenvolver complicações de saúde a longo prazo é um dos principais desafios para os pesquisadores e profissionais de saúde da área”, esclarece ela.

O presente artigo cita este estudo e avalia que os efeitos negativos do isolamento social causado pela COVID-19 podem apresentar consequências para a saúde a médio e longo prazo.

Mesmo no grupo MHO, que apresentou melhor ingestão alimentar e menos desfechos de saúde ao longo do estudo, é preciso diminuir o consumo de alimentos ultraprocessados. Para isso, o artigo indica medidas e ações de saúde pública voltadas para a população, pela necessidade de minimizar os impactos da pandemia, ainda sentidos.

Glaucia explica que no contexto geral da análise qualitativa foi percebida o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados e que no período pré-pandemia, as mulheres metabolicamente não saudáveis consumiram mais pães e derivados, açúcar refinados, sal de cozinha, biscoitos industrializados, farinhas refinadas e doces, alimentos estes que apresentam altas concentrações de carboidratos.

“Já no período pós-pandemia, o mesmo grupo piorou a qualidade da alimentação, aumentando o consumo de alimentos como carne bovina, doces concentrados, biscoitos, queijos, sucos industrializados, açúcar, refrigerante, farinhas refinadas, embutidos e margarina. Alimentos ricos em carboidratos simples, gordura saturada, sódio e aditivos químicos”, finaliza ela.

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