"O cardiologista do século XXI é o metabólico cardiologista”
15/08/2022, 15:35 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Renato Lopes destaca a importância da compreensão do metabolismo e sua interação com os sistemas cardiovascular e renal para a melhor prática clínica
Durante o século XX, a cardiologia era muito focada na trombose e anticoagulação. Segundo Renato Lopes, professor titular da Divisão de Cardiologia da Duke University (EUA), o cenário atual indica que o cardiologista do futuro precisa se aprofundar no metabolismo e na interação do coração com outros órgãos. "Em vez de apenas tratar a glicemia do diabético ou o LDL do paciente com dislipidemia, será preciso tratar o risco cardiovascular com medicamentos que vão muito além de apenas modificar os níveis sanguíneos de um biomarcador”, afirma Lopes.
O profundo conhecimento sobre a complexa interação entre inflamação, função renal, função cardíaca e demais alterações metabólicas que as doenças cardiovasculares podem causar, assim como os modernos tratamentos para tais condições, são o que caracterizam o metabólico cardiologista. Drogas modernas que atuam no risco cardiovascular, reduzindo mortes, infartos e AVCs fazem parte desse cenário que vai além do tratamento tradicional da glicemia no diabetes ou do colesterol na dislipidemia.
A colaboração com outras especialidades médicas também é uma necessidade, diz Lopes. “Nesse cenário, a cardio-oncologia, por exemplo, ilustra a importância de uma eficiente interação entre cardiologistas e oncologistas para tratar as duas principais causas de morte do mundo: a doença cardiovascular e o câncer. É uma área em franco crescimento, cujo objetivo maior é manejar e prevenir as complicações cardiovasculares que podem surgir em consequência dos tratamentos dos cânceres”, afirma.
Inovação e futuro
A inovação em técnicas e dispositivos assim como medicamentos que diminuem o risco cardiovascular também compõem esse cenário de visão holística. Lopes coordenou o estudo Augustus, ensaio clínico que envolveu 4.614 pacientes sobre a combinação de anticoagulantes e antiplaquetários em pacientes com fibrilação atrial que foram submetidos a angioplastia coronária. Com desenho robusto e resultados muito relevantes, o trabalho se tornou base para as recomendações de todas as diretrizes mundiais.
O estudo integra os debates do 77º World Congress of Cardiology (WCC) no painel Desafios na terapia antitrombótica após a intervenção coronária percutânea que acontece em 15 de outubro às 10h40, no Auditório 08. "O congresso apresenta uma oportunidade de discutir em detalhes aspectos clínicos relevantes para a prática clínica nessa nova era da anticoagulação", diz Lopes.
Segundo o médico, o surgimento dos anticoagulantes diretos revolucionou o tratamento de diversos cenários clínicos, incluindo desde a fibrilação atrial, a síndrome coronariana aguda, doença arterial periférica e o tromboembolismo venoso. “No WCC, apresentaremos as novidades promissoras dos inibidores do fator XI ativado, uma grande promessa terapêutica de diminuir ainda mais as taxas de sangramento quando comparados aos anticoagulantes orais que nós temos atualmente e, portanto, facilitar o encontro do ‘sweet-spot’ antitrombótico na prática clínica”, afirma.
Lopes também destaca na programação do WCC o tradicional simpósio conjunto entre a SBC e a Duke University. O painel debaterá Perspectivas futuras em cardiologia: o que podemos esperar para os próximos 5 anos e acontece em 14 de outubro às 13h50, no Auditório 2.
Para participar da programação do WCC, inscreva-se no link: worldcardio2022.com/inscrição