Mulheres estão em menor número nos grupos estudados em pesquisas científicas na cardiologia
17/01/2023, 17:25 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Periódicos podem tomar iniciativas para incentivar o cenário, como a adoção das diretrizes SAGER
Luísa Guimarães, Vital Agência de Comunicação, Assessoria da Sociedade Brasileira de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil.
A mortalidade por doenças cardiovasculares é proporcionalmente maior em mulheres em comparação com os homens. Apesar disso, elas estão sub-representadas nos grupos de estudo e testes da área. Esses dados estão detalhados no editorial Sex and Gender Equity in Research and Publishing: International Journal of Cardiovascular Sciences endorses SAGER Guidelines, publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), periódico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A publicação é um chamado para a comunidade científica de cardiologia, e detalha como as revistas científicas podem ajudar na busca pela equidade de gênero no ambiente de pesquisa. O maior foco está na aplicação das diretrizes SAGER (Sex and
Gender Equity in Research), já adotadas e endossadas pelo IJCS há mais de dois anos.
“Existe toda uma preocupação de ter mais transparência e uma maior inclusão de mulheres nos grupos avaliados em estudo, tornando os resultados mais válidos”, diz Claudio Mesquita, editor-chefe do IJCS.
As diretrizes SAGER foram desenvolvidas por 13 especialistas, e visam orientar autores e autoras e também editores de publicações científicas. Uma tabela está descrita no editorial, com orientações específicas e recomendações listadas por seções do artigo.
As diretrizes são um passo importante para publicações que desejam contribuir com uma maior equidade de gênero na área. Porém, outras ações também são essenciais.
“É muito importante que os periódicos façam uma movimentação não só dentro da própria publicação, com mais revisoras e editoras mulheres, mas também de fora para dentro, incluindo mais mulheres nos grupos analisados”, ressalta Claudio.
Ele ainda detalha o cenário da pesquisa atual: “muitos estudos são realizados com um público de 80%, às vezes até 100% dos participantes como homens. Os homens têm muitas características diferentes das mulheres de forma biológica e comportamental”.
O editorial ainda ressalta a importância na diferenciação entre os conceitos de sexo e gênero nas publicações. Tratamentos, diagnósticos e processos podem ser válidos para o público masculino, mas não necessariamente para o feminino.
“Em um evento que participei, fizeram uma analogia com o lado escuro da Lua. Tem uma parte da Lua que nunca vemos, não temos conhecimento. Muitas das doenças cardiológicas da mulher também não conseguimos entender adequadamente por faltarem estudos robustos”, afirma Claudio.
É um dever de toda a comunidade científica usar de seu conhecimento para oferecer oportunidades que possibilitem aproximar a diferença de gênero estabelecida na área.