Mudanças no estilo de vida podem impactar na inflamação causada pela aterosclerose
31/10/2023, 18:49 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Estima-se que as doenças cardiovasculares de base aterosclerótica sejam responsáveis por aproximadamente 18 milhões de mortes por ano no mundo todo. No Brasil, o mesmo dado aponta para 400 mil vítimas anuais por doença aterosclerótica vascular e suas complicações. Além do diagnóstico precoce e tratamento adequado da doença, é preciso reconhecer o risco residual elevado de causa inflamatória para abordar a condição e reduzir suas complicações e, consequentemente, a quantidade de vítimas.
Com o objetivo de traçar uma linha do tempo por meio de estudos experimentais e clínicos, além de explorar a base de conhecimento atual sobre a aterosclerose, um artigo de revisão acaba de ser publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS). Trata-se do título Inflammation in Cardiovascular Disease: Current Status and Future Perspectives.
O estudo foi realizado na Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), por dois professores adjuntos da instituição, já envolvidos com pesquisas anteriores a respeito da aterosclerose. Uma delas é o estudo Júpiter, publicado no New England Journal of Medicine, em 2008, liderado pelo pesquisador da Universidade de Harvard, Paul Ridker, responsável por diversas descobertas no campo da aterosclerose.
“Nesse estudo nós demonstramos que há pacientes que têm aumento de um marcador inflamatório, a proteína c-reativa, mesmo com níveis relativamente normais de colesterol e sem outros fatores de risco importantes”, explica Francisco Antonio Helfenstein Fonseca, autor principal do artigo de revisão.
“Foi a primeira vez que se demonstrou, em um grande estudo prospectivo, randomizado e controlado, que o uso de uma estatina em pacientes com aumento da proteína C-reativa foi associado à redução acentuada dos principais desfechos cardiovasculares mesmo tendo níveis de colesterol basais relativamente normais”, complementa Maria Cristina Izar, segunda autora do artigo publicado na IJCS.
O estudo Júpiter é uma das pesquisas detalhadas no artigo de revisão, que ainda aborda descobertas que revolucionaram a abordagem da aterosclerose. Uma delas é a relação da ativação do inflamassoma com a via inflamatória relacionada com a aterosclerose e desfechos cardiovasculares, além de depósitos de cristais de colesterol na placa, descoberto em estudos também de Paul Ridker.
“Eles antes eram vistos como um artefato de preparação histológica, mas na verdade a presença de cristais de colesterol ativa esses inflamassomas, que levam à apoptose das células, à morte programada de células e ativam as vias inflamatórias”, destaca Maria.
O artigo ainda aborda a mudança no perfil do paciente que infarta atualmente, principalmente na análise de países desenvolvidos.
“Em países desenvolvidos, a principal causa de infarto é a erosão e não a ruptura da placa aterosclerótica, que ocorre em geral mais tardiamente na vida, mas ainda associado à inflamação”, diz Maria.
O controle dos fatores de risco já conhecidos e o tratamento anti-inflamatório, por meio do uso de estatinas, tornam as placas ateroscleróticas estáveis, ou seja, menos sujeitas à ruptura. Os infartos que ocorrem por conta da erosão endotelial costumam ter melhor evolução e desfechos mais positivos.
O cenário futuro da doença ainda é abordado no artigo, que destaca a importância da avaliação da inflamação em pacientes com alto risco de doença renal crônica, após doença coronariana aguda.
O controle de fatores de risco mostra-se fundamental para melhorar a realidade das doenças cardiovasculares no Brasil e no mundo, como Francisco afirma.
“Nós precisamos mudar a realidade para a prevenção da doença cardiovascular em todos os níveis. Desde a prevenção primordial, que é evitando o aparecimento dos fatores de risco, ou na prevenção primária, quando se tem um fator de risco, mas se pode prevenir o desfecho coronariano com controle adequado da pressão, diabetes, evitando o tabagismo, controle do colesterol e assim por diante”, ele finaliza.
Referências
Fonseca FA, Izar MC. Primary prevention of vascular events in patients with
high levels of C-reactive protein: the JUPITER study. Expert Rev Cardiovasc
Ther. 2009 Sep;7(9):1041-56. doi: 10.1586/erc.09.93. PMID: 19764857.