Manejo em fibrilação atrial na prática do consultório é tema de mesa no último dia do 78º CBC
06/10/2023, 10:45 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Cardiologistas debateram métodos diagnósticos e tratamentos, cirúrgicos e medicamentosos, para a condição.
Na tarde do último dia do 78º Congresso de Cardiologia, o bloco “A Prática no Consultório” apresentou questões polêmicas quanto ao manejo de arritmias cardíacas e foi coordenado por Ana Claudia Venancio, eletrofisiologista do Hospital Monte Sinai de Juiz de Fora, Minas Gerais.
“Extrassístole ventricular de alta densidade no Holter, com e sem TVNS: devemos tratar? Como e qual o benefício?”, foi o tema discutido por Mauricio Pimentel, eletrofisiologista cardíaco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ele expôs que o eletrocardiograma é importante para avaliação das extrassístoles.
Segundo o médico, ao se deparar com alta densidade de extrassístoles duas informações vêm logo à cabeça, se há ou não doença estrutural e se há ou não sintomas. “Ao surgir a dúvida de quando fazer a ressonância nuclear magnética, a história clínica e o eletrocardiograma apontam quando há maior probabilidade desse exame apresentar alguma alteração”, disse ele.
Tiago Luiz Luz Leiria, eletrofisiologista e diretor tesoureiro do Instituto de Cardiologia, Rio Grande do Sul, iniciou sua palestra “Paciente com bloqueio bifascicular e síncope: o Holter é suficiente?” ressaltando que para responder a pergunta título é preciso se questionar também “suficiente para quê?”.
“Nem sempre o Holter é necessário, mas por ser uma ferramenta tão fácil de solicitar, ele acaba sendo uma síntese mais inicial nesses pacientes com sintomas globais”, disse Leiria. O médico pontuou na tomada de decisão clínica, é importante definir se a causa da síncope não está relacionada a sintomas que contraindicam a avaliação invasiva.
“Oclusão do apêndice atrial esquerdo: quando indicar e como realizar o manejo medicamentoso após?”, foi o assunto discutido por Luis Augusto Palma Dallan, cardiologista intervencionista no University Hospitals, em Chicago, Estados Unidos. “Mais de 90% dos trombos são formados no apêndice atrial esquerdo. Retirando ele da situação se reduz drasticamente o risco de evento cardio-embólico", disse ele.
Dallan apontou que existem vários métodos para realizar a oclusão do apêndice atrial esquerdo, incluindo métodos cirúrgicos e ambulatoriais. O médico destacou os dispositivos Watchman FLX Device e Amulet.
Já em relação ao tratamento medicamentoso, Dallan afirmou que não existe um padrão de tratamento, sendo individualizado de acordo com o risco do paciente. “Estudos que comparam anticoagulantes e dupla antiagregação plaquetária demonstram que não há diferenças significativas entre os resultados dos dois medicamentos”, explica.
Mitermayer Reis Brito, coordenador do Departamento de Arritmias e Eletrofisiologia Cardíaca Invasiva do Hospital Madre Teresa, de Belo Horizonte, falou sobre “Síncope: quando internar?”, destacando que é importante ter em mente que ela é comum na UTI, que pode ser um precursor de morte súbita e que se indetectada tem aspectos na propedêutica.
O cardiologista explicou que é o primeiro passo é classificar os pacientes por grau de risco e que avaliar o histórico clínico, como sintomas e associações, o histórico familiar, como mortes de parentes primários, além de alterações nos exames clínicos e físicos, incluindo quadro sincopal precedido de falta de ar, dor abdominal, sangramento e baixa pressão arterial sistólica.
O debate “Ablação da FA, quanto mais cedo melhor?”, apresentada por Jacob Atié, professor responsável pela pós-graduação de Arritmias Cardíacas da Clínica São Vicente, do Instituto D’Or, no Rio de Janeiro, destacou que a história natural de pacientes com fibrilação atrial paroxística é evoluir para FA permanente.
“Vários estudos já demonstram o sucesso significativo da ablação quando comparados com drogas antiarrítmicas. Podemos dizer efetivamente, de uma forma consistente, que podemos modificar a história natural desses pacientes”, disse Atié.
Atié expôs pesquisas que relatam que a ablação reduz o risco de progressão em até sete vezes. Ele também destacou que antes acreditava-se que a ablação não implica em queda nas taxas de mortalidade, mas que já se descobriu reduções de quase 47%.
Em relação ao momento de se realizar o procedimento, o médico destaca estudos que apontam pacientes foram submetidos à ablação com de um a seis meses após o diagnóstico tiveram evoluções muito melhores do que com períodos maiores.