Insuficiência Cardíaca causa mais mortes e hospitalizações que diversos tipos de câncer
30/08/2022, 15:38 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Apesar do aumento no número de mortes por Insuficiência Cardíaca, a pesquisa mostrou também que houve uma diminuição de 34% nos leitos em hospitais públicos brasileiros
A Insuficiência Cardíaca motivou mais internações hospitalares do que todos os tipos de câncer no Brasil, mostra um levantamento inédito publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS). O estudo, coordenado pelo pesquisador Dirceu Rodrigues de Almeida, da Unifesp, comparou a taxa de mortalidade e internações causadas pela Insuficiência Cardíaca e por alguns tipos de câncer em um período de dez anos (2005 – 2015) e concluiu que, além das hospitalizações, esta doença também causa mais mortes do que os tipos de câncer analisados, como por exemplo o câncer de estômago, de próstata e até mesmo o câncer de mama.
Ainda, apesar de o número de internações por Insuficiência Cardíaca ter diminuído 69,33% de 2005 (277,168) para 2015 (192,181), os números que foram coletados no sistema de informação do Ministério da Saúde, a partir do banco de dados de hospitais públicos do SUS (Sistema Único de Saúde) revelam que a taxa de mortalidade por Insuficiência Cardíaca teve um aumento de 11% no período analisado. Em 2005, 22,517 pessoas morreram devido a esta doença e, em 2015, a IC causou 25,004 mortes.
De acordo com Dirceu Rodrigues de Almeida, pesquisador que organizou o levantamento, esta contradição no aumento do número de mortes e diminuição no número de internações deve-se “à falta de leitos. Sabemos que a queda no número é por falta de leitos e muitos pacientes são atendidos nas emergências e não são hospitalizados. Já o aumento no número de mortes é reflexo da gravidade da doença e da abordagem inadequada no tratamento, visto que a maioria dos pacientes são internados em hospitais onde não têm especialistas em Insuficiência Cardíaca. A taxas de mortalidade destes pacientes está entre 10 a 15% no período de internação”, explica Almeida.
Além disso, em 2015, as mortes causadas pela Insuficiência Cardíaca equivaleram praticamente à soma de todas as mortes derivadas por seis tipos de câncer diferentes (câncer de estômago; câncer de colorretal; câncer de pulmão; câncer de mama; câncer do colo do útero e câncer de próstata). Ao todo, esses cânceres causaram 25,609 mortes em 2015, enquanto a IC sozinha causou 25,004 óbitos, como mostram os dados.
Entretanto, mesmo com o grande número de internações e óbitos, a pesquisa constatou que houve uma diminuição no número de leitos no Brasil entre 2009 e 2020. Em 2009, os hospitais públicos do país contavam com 460,928 leitos e, em 2020, esse número caiu para 426,388, uma queda de 34,54%. Para o pesquisador, “a queda do número de leitos é muito grave e foi muito significativa entre 2009 e 2016, decorrente de política inadequada do Ministério da Saúde e, em 2020, houve uma queda mais expressiva em decorrência da Covid-19, que passou a ocupar grande número de leitos. Isto reflete diretamente e de forma negativa para os pacientes com Insuficiência Cardíaca, que é a principal causa de internação hospitalar em pacientes com idade acima de 65 anos”, completa.
O autor do estudo conta também que a ideia de traçar um paralelo entre a Insuficiência Cardíaca e o câncer se deu pois em países como a Suécia e o Reino Unido já foi constatado que a insuficiência Cardíaca é mais grave que a maioria dos cânceres, tanto em homens como nas mulheres. “O nosso objetivo foi observar se os mesmos dados seriam encontrados em nosso meio, e foram idênticos. Então, este estudo serve para chamar a atenção dos profissionais de saúde e dos gestores de saúde que estamos diante de uma doença muito frequente e que mata mais que a maioria dos tipos de câncer”. Além disso, Dirceu afirma também que o estudo “pode ajudar os pacientes a não pararem o seu tratamento, visto que a não adesão ou o abandono do tratamento pode implicar em altos riscos de hospitalizações e de morte”, concluí.
Para Claudio Tinoco Mesquita, editor-chefe da ABC Cardiol, este estudo é importante para “lançar um alerta, pois quando se fala em câncer, as pessoas ficam apavoradas, porém, este levantamento nos mostra que a insuficiência cardíaca é tão grave e tão maligna quanto um câncer e precisa de urgente atenção para seu diagnóstico, prevenção e tratamento”, completa.
Para conferir o estudo completo, basta acessar a página: