IAM com Supra de ST em Pacientes com COVID-19. Desfechos Clínicos eAngiográficos

29/05/2020, 18:51 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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Revisores:

  • Vinícius Esteves - Cardiologista Intervencionista – Rede D’OR São Luiz – São Paulo

Fundamentação: a pandemia de coronarvírus (COVID-19) tomou proporções dramáticas mundialmente, sendo a região da Lombardia, ao Norte da Itália, uma das áreas mais afetadas1,2. Complicações cardiovasculares são frequentemente encontradas em pacientes infectados pelo vírus, agregando desafios ao manuseio clínicos desses3. O objetivo desse estudo foi avaliar a incidência, manifestações clínicas, achados angiográficos e desfechos dos pacientes com COVID-19 e infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST).

Metodologia: publicado recentemente no CIRCULATION essa é uma análise retrospectiva, realizada apenas entre hospitais da Lombardia durante o período de 20/02/2020 a 30/03/2020. Foram incluídos pacientes com diagnóstico de COVID-19 submetidos a cineangiocoronariografia de urgência devido a quadro de IAMCSST. A infecção viral foi confirmada pelo exame de RT-PCR e o diagnóstico de infarto baseado em sintomas típicos, associados a elevação do segmento ST ou bloqueio de ramo esquerdo novo (BRE). Uma estenose coronária foi considerada culpada pelo evento isquêmico em caso de oclusão trombótica aguda/subaguda e doença coronária obstrutiva definida como evidência angiográfica de estenose > 50 % por estimativa visual.

Principais Resultados: 28 pacientes foram incluídos durante o período. 89,3% apresentavam elevação do segmento ST e 10,7% BRE, sendo todos tratados num cenário de acionamento emergencial. A média de idade foi 68 ± 11 anos, 28,6% eram do sexo feminino, mais de 70 % portadores de hipertensão arterial sistêmica, 32,1% diabéticos, 38,6% com insuficiência renal crônica e aproximadamente 11% com infarto prévio. Em 85,7% dos pacientes IAMCSST foi a primeira manifestação clínica de COVID-19 e não tinham realizado o teste diagnóstico para a infecção viral no momento da realização do cateterismo cardíaco. Os demais pacientes apresentaram IAMCSST durante internação hospitalar por COVID-19. 78,6% dos pacientes apresentaram dor precordial típica associada ou não a dispneia, enquanto os demais com dispneia mas sem precordialgia. A análise ecocardiográfica evidenciou que 82,1% apresentavam alterações segmentares, enquanto que 10,7% hipocinesia difusa e 7,1% sem alterações de contração ventricular. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo estava abaixo de 50% em 60,7%. Nenhum paciente foi submetido a terapia fibrinolítica, sendo que 60,7% apresentavam lesão angiográfica com necessidade de revascularização e 39,3% não apresentavam coronariopatia obstrutiva. Após uma média de acompanhamento clínico de 13 dias (IQ 2-20) 39% dos pacientes evoluíram a óbito, 3,6% ainda permaneciam hospitalizados e 57,1% tiveram alta hospitalar.

Conclusões: os autores concluíram que IAMCSST pode representar a primeira manifestação clínica de COVID-19. Em 40% dos pacientes com IAMCSST e COVID-19 pode não haver coronariopatia obstrutiva associada. Um fluxograma diferenciado deve ser validado para esse perfil de pacientes, visando minimizar os riscos dos procedimentos e reduzir a chance de contaminação dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento.

Impacto Clínico na Opinião dos Editores: a pandemia de COVID-19 reduziu drasticamente os atendimentos ambulatoriais e hospitalares na área de Cardiologia. Uma importante constatação é que as medidas de isolamento social, impostas para impedir a propagação rápida da doença, vem sendo associadas a um impacto direto na redução de pacientes com doenças cardiovasculares nas emergências (dados variáveis de 40-70%), porém com um aumento substancial no número de mortes por infarto agudo do miocárdio, principalmente em domicilio4,5. Relatos mais recentes confirmaram que os pacientes portadores de doenças cardiovasculares representam população de alto risco para desenvolvimento da forma mais grave da COVID 19 4,5,6. A associação entre as duas patologias tem sido alvo de contínuos esforços da comunidade médica, visando reduzir a morbimortalidade dos pacientes cardiopatas infectados. Nesse cenário, as emergências cardiovasculares, em especial a síndrome coronariana aguda (SCA), tem passado por adaptação de fluxos e protocolos de atendimento tanto para diagnóstico quanto para tratamento desde o início da pandemia7,8,9.

Outro agravante para o manuseio da SCA neste período vem sendo as múltiplas manifestações com diagnóstico diferencial associadas ao COVID 19, como: miopericardite, embolia pulmonar, arritmia, entre outros. Por fim, outro aspecto extremamente relevante relacionado ao assunto é a necessidade de proteção adequada com equipamentos de proteção individual (EPI) pelos profissionais de saúde. Muitas vezes os pacientes chegam aos serviços de emergência sem quadro respiratório típico de infecção e são encaminhados diretamente aos serviços de Hemodinâmica. Nesse cenário eleva-se o risco de contaminação da equipe assistencial envolvida no atendimento caso não estejam utilizando EPI.

Com a experiência relatada por centros médicos internacionais, é fundamental que os hospitais no Brasil criem fluxos específicos, visando melhoria na qualidade do atendimento aos pacientes com COVID-19 e patologias cardiovasculares e proteção aos profissionais de saúde que estão na linha de frente.

Referências:

  1. Guan WJ, Ni ZY, Hu Y, Liang WH, Ou CQ, He JX, Liu L, Shan H, Lei CL, Hui DSC et al. and China Medical Treatment Expert Group for Covid-19. Clinical Characteristics of Coronavirus Disease 2019 in China. N Engl J Med. Feb 28, 2020. doi: 10.1056/NEJMoa2002032. [online ahead of print].
  2. Stefanini GG, Azzolini E and Condorelli G. Critical Organizational Issues for Cardiologists in the COVID-19 Outbreak: A Frontline Experience From Milan, Italy. Circulation. March 24, 2020. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.120.047070. [online ahead of print].
  3. Welt FGP, Shah PB, Aronow HD, Bortnick AE, Henry TD, Sherwood MW, Youngm MN, Davidson LJ, Kadavath S, Ehtisham M, et al. Catheterization Laboratory Considerations During the Coronavirus (COVID-19) Pandemic: From ACC’s Interventional Council and SCAI. J Am Coll Cardiol. March 16, 2020. doi: 10.1016/j.jacc.2020.03.021. [online ahead of print].
  4. Ruan Q, Yang K, Wang W, Jiang L, Song J. Clinical predictors of mortality due to COVID-19 based on an analysis of data of 150 patients from Wuhan, China. Intensive Care Medicine, March,2020. doi.org/10.1007/ s00134-020-05991-x.
  5. Strabelli TMV, Uip DE.COVID-19 and the Heart Arq Bras Cardiol. 2020; [online]. Ahead print.
  6. Zhou F., Yu T., Du R, et al. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet 2020;395:1054–62.doi: 10.1016/S0140-6736(20)30566-3.
  7. Zeng, J., Huang, J. & Pan, L. How to balance acute myocardial infarction and COVID-19: the protocols from Sichuan Provincial People’s Hospital. Intensive Care Med (2020). https://doi.org/10.1007/s00134-020-05993-9.
  8. Tarantini G, Fraccaro C, Chieffo A, et al. Italian Society of Interventional Cardiology (GISE) position paper for Cath lab-specific preparedness recommendations for healthcare providers in case of suspected, probable or confirmed cases of COVID-19. Catheter Cardiovasc Interv.2020.Mar 29.doi: 10.1002/ccd.28888.
  9. Welt FGP, Shah PB, Aronow HD. Catheterization Laboratory Considerations During the Coronavirus (COVID-19) Pandemic: From ACC's Interventional Council and SCAI. J Am Coll Cardiol.2020. Mar 16. pii: S0735-1097(20)34566-6.
  10. #sindrome_coronariana_aguda

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