Fatores de risco cardiovasculares como preditores do prognóstico da COVID-19
12/02/2023, 15:48 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
Compartilhar
Estudo realizado com dados coletados entre 2020 e 2021 aponta
as principais condições que podem causar uma pior evolução
na doença causada pelo coronavírus
A avaliação dos fatores de risco cardiovasculares mostrou-se relevante para o desfecho clínico de pacientes internados com COVID-19. Um estudo que coletou dados entre 2020 e 2021 auxilia na compreensão do impacto de condições de saúde prévias à doença.
The Impact of Cardiovascular Risk Factors and Renal Disease on Outcomes in Patients Hospitalized with COVID-19: An Observational Study from Two Public Hospitals in Brazil foi publicado na última edição do International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) e teve como objetivo avaliar o impacto dos fatores de risco cardiovasculares nos resultados de pacientes internado por COVID-19.
Para tal, foram coletados dados de 200 pacientes, admitidos no Hospital Universitário Antônio Pedro e Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara entre julho de 2020 e fevereiro de 2021. É importante ressaltar que, nesse período, as vacinas para COVID-19 ainda não estavam disponíveis no Brasil, portanto, os pacientes ainda não contavam com a imunização.
Humberto Villacorta, professor de Cardiologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor principal do artigo, conta que a investigação teve início em um grupo de estudos internacional.
“Esse grupo, montado pelo Prof. Alan Maisel, da Universidade da Califórnia em San Diego, começou discutindo a COVID-19, mas conforme a pandemia foi sendo controlada o grupo foi sendo reduzido e passou a se concentrar em outros projetos.”, diz o professor.
Com os dados do hospital onde atuava, em Niterói, e de pacientes do Hospital em Maricá, coletados por Diane Xavier de Ávila, segunda autora do artigo, iniciou a análise multivariada que deu origem à presente publicação.
“Nós fizemos duas análises, uma considera o desfecho primário, com fatores combinados que indicam morte ou gravidade da doença, como evolução para ventilação mecânica, diálise ou internação prolongada por mais de 28 dias.”, Humberto detalha. O desfecho secundário considera somente a mortalidade hospitalar. Através de uma análise multivariada, alguns fatores de risco prévios foram evidenciados.
“Analisando a gravidade, quatro fatores se destacaram: a idade, diabetes, DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) e a doença renal crônica (CKD, a sigla em inglês). Já para a mortalidade, os dois fatores de risco apontados foram a idade e a doença renal crônica.”, explica Humberto.
Outras análises foram feitas a partir dos dados. Humberto destaca que na análise multivariada incluindo tanto parâmetros clínicos quanto os sinais vitais, a diabetes aparece como fator: “Além dela, também mostraram-se como fatores de risco a pressão arterial e a frequência respiratória. Quem foi admitido com pressão mais baixa e frequência respiratória mais alta possuía uma tendência a evoluir de forma pior”.
O professor de Cardiologia comenta ainda sobre um futuro estudo que está em fase de desenvolvimento. Ele contará com a análise de 1600 amostras de sangue de pacientes com COVID-19, que atualmente estão armazenadas na forma de soro. O objetivo é dosar biomarcadores tradicionais e novos biomarcadores, como o GDF-15.
“O estudo atual é de parâmetros clínicos, e também considera alguns dados de exames de rotina. Quando falamos em biomarcadores, são coisas que não são dosadas no dia-a-dia. Na UFF estudamos um marcador inflamatório e de stress oxidativo, o GDF-15. Somos o único grupo que estuda esse biomarcador no Brasil.”, diz.
Existem estudos que indicam que o GDF-15 pode ser um marcador prognóstico de COVID-19, apontando para a evolução da doença.