Estudo sugere TAVI como melhor caminho de tratamento da estenose aórtica em mulheres
31/10/2023, 18:42 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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O tratamento da doença deve considerar diferentes características, como o gênero do paciente
A estenose aórtica degenerativa decorre do processo de envelhecimento, que leva ao espessamento e enrijecimento da valva aórtica com consequente dificuldade de sua abertura. Com o envelhecimento da população nas últimas décadas, essa patologia se tornou endêmica, passando a representar um problema de saúde pública.
O cenário se torna ainda mais complexo quando constatamos que não há um tratamento clínico para a estenose aórtica. A única terapia, até duas décadas atrás, era a cirurgia de troca valvar. Como se trata de uma doença que acomete idosos, cerca de 30% dos portadores de estenose aórtica degenerativa deixavam de ser tratados por falta de condições cirúrgicas.
Um novo artigo que acaba de ser publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) traz à tona informações cruciais sobre essa condição, com um foco especial nas mulheres.
O estudo Degenerative Aortic Stenosis in Women: Challenges and Perspectives aborda dados do Global Burden of Disease (GBD) 2019, que mostram que a prevalência de doença valvar aórtica calcificada no Brasil está em ascensão. De acordo com a análise, mulheres apresentam taxas de mortalidade relacionadas à estenose aórtica proporcionalmente mais altas em comparação aos homens.
Segundo uma das autoras do artigo, a cardiologista Maria Cristina Meira Ferreira, outros estudos indicam que a cirurgia de troca valvar apresenta resultados piores nas mulheres do que em relação aos homens, com maior mortalidade no sexo feminino. Por ser um procedimento muito menos invasivo, inicialmente veio para atender a população de idosos que não possuía condições cirúrgicas para troca valvar.
“Ao longo dos anos seguintes, muitos estudos clínicos foram desenvolvidos, sendo verificado que o TAVI era mais favorável às mulheres que a cirurgia de troca valvar, levando a uma mortalidade equivalente entre os sexos. Mulheres apresentam características anatômicas, decorrentes principalmente da menor superfície corporal, que requerem maior atenção na tomada da melhor decisão terapêutica e na sua execução. Esses elementos devem ser extensamente avaliados para decisão entre cirurgia de troca valvar ou TAVI e qual tipo de prótese valvar a ser utilizadas nesses procedimentos”, explica Maria Cristina.
O artigo publicado no IJCS aponta, ainda, que a substituição cirúrgica da válvula aórtica e o tratamento transcateter (TAVI) são os únicos capazes de modificar a qualidade de vida e o prognóstico evolutivo da patologia. Porém, existem ainda desafios importantes. A demora na substituição da válvula aórtica após o surgimento dos sintomas pode resultar em uma taxa de mortalidade superior a 50%, quando o prazo se estende a dois anos em pacientes com estenose aórtica sintomática.
As mulheres tendem a apresentar uma doença mais grave, com menos calcificação valvar do que os homens. Pelas particularidades na evolução da doença, costumam ter sintomas menos evidentes, que muitas vezes levam ao encaminhamento tardio para tratamento cirúrgico ou percutâneo. Além do diagnóstico tardio, a maior comorbidade entre as mulheres, possivelmente relacionada à menor superfície corporal, pode afetar os resultados da cirurgia, levando a maiores taxas de mortalidade.
“Essas informações nos permitem concluir que a população médica deve ter sempre em mente que existem diferenças entre homens e mulheres, não somente na sintomatologia da estenose aórtica como também em outras patologias cardíacas. A acurácia na percepção dos sintomas em mulheres é fundamental para a assertiva diagnóstica”, finaliza Maria Cristina.