Estudo LoDoCo2 - Colchicina em Pacientes com Doença Coronariana Crônica

06/10/2020, 10:33 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30

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  • Samuel Moscavitch
  • - Brigham and Women’s Hospital/ Harvard Medical School

Fundamentação: As possibilidades do uso de terapias antiinflamatórias sobre desfechos cardiovasculares foram postas em evidência após a publicação, em 2017, do estudo CANTOS (Canakinumab Antiinflammatory Thrombosis Outcome Study) que mostrou benefícios com o uso do anticorpo monoclonal anti- Interleucina (IL)-1b em pacientes com histórico de infarto do miocárdio e níveis elevados de proteína C reativa. No entanto, em outro estudo com metotrexato em pacientes com doença coronariana crônica, não houve melhora clínica. O estudo piloto que investigou o uso de 0,5 mg de colchicina (LoDoCo) em pacientes com doença arterial coronariana sugeriu um benefício sobre eventos cardiovasculares agudos. O objetivo do estudo LoDoCo2 foi avaliar a segurança e eficácia da colchicina em pacientes com doença coronariana crônica.

Metodologia: Ensaio clínico randomizado, controlado e duplo-cego, com 5.522 pacientes (2.762 no grupo tratado com 0,5mg de colchicina e 2.760 no grupo placebo). A duração média do acompanhamento foi de 28,6 meses. Os critérios de inclusão foram: ter doença coronariana evidenciada na angiografia coronária invasiva ou tomografia computadorizada; angiografia ou escore de cálcio em artéria coronária de ≥400; estar clinicamente estável por pelo menos 6 meses; idade entre 35 e 82 anos. Os critérios de exclusão foram: ser portador de Insuficiência cardíaca grave, valvopatia grave, insuficiência renal moderada a grave ou apresentar efeitos colaterais comuns ao uso de colchicina. O desfecho primário foi definido como um composto de morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) espontâneo não-procedimental, acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico ou revascularização coronária induzida por isquemia. O desfecho secundário foi definido como um composto de morte cardiovascular, IAM espontâneo ou AVC isquêmico.

Principais Resultados: O desfecho primário ocorreu em 187 pacientes (6,8%) no grupo de colchicina, comparado a 264 pacientes (9,6%) no grupo placebo (hazard ratio [HR]: 0,69, IC95%: 0,57-0,83, p <0,001). O uso da colchicina reduziu eventos de IAM (3,0% vs. 4.2%, p = 0.01); AVC (0.6% vs. 0.9%, p = 0.2), revascularizações induzidas por isquemia (4.9% vs. 6.4%, p = 0.01) e mortalidade cardiovascular (0.7% vs. 0.9%, p > 0.05). No entanto, houve uma maior incidência de morte por causas não-cardiovasculares no grupo tratado com colchicina (0,7 vs. 0,5 eventos/100 pessoas-ano; HR: 1,51; IC95%: 0,99 - 2,31).

Conclusão e Impacto Clínico: O estudo LoDoCo2 mostrou que o uso da colchicina melhora desfechos cardiovasculares, principalmente IAM e revascularizações induzidas por isquemia, em pacientes com doença coronariana crônica, comparado ao placebo. No entanto, houve maior mortalidade não-cardiovascular com o uso da colchicina.

Publicado em 2019, o estudo COLCOT também mostrou um benefício em desfechos isquêmicos com o uso da colchicina. Os achados do estudo COLCOT são complementares ao do LoDoCo2, pois o primeiro incluiu pacientes dentro de 30 dias após IAM enquanto o segundo incluiu pacientes com doença coronariana estável.

Também publicado recentemente, o estudo COPS não mostrou efeito sobre desfechos cardiovasculares com o uso da colchicina em paciente com síndrome coronariana aguda, comparado ao placebo (6.1% vs. 9.5%, p = 0.09). O COPS foi um estudo menor que o COLCOT e mostrou maior mortalidade não-cardiovascular com uso da colchicina (5 vs. 0, p = 0.023), enquanto o COLCOT mostrou um efeito neutro sobre mortalidade não-cardiovascular (1.8% vs. 1.8%).

A tolerabilidade da colchicina pode ser uma questão ao iniciar o tratamento considerando que no estudo LoDoCo2 cerca de 15% dos participantes não foram incluídos na randomização por apresentar efeitos colaterais iniciais.

Os resultados do estudo LoDoCo2 sugerem a colchicina como uma nova opção para a prevenção eventos cardiovasculares a longo prazo em pacientes com doença coronariana crônica.

Referências

  1. Nidorf SM, Fiolet ATL, Mosterd A, et al. Colchicine in Patients with Chronic Coronary Disease. N Engl J Med. 2020 Aug 31. doi: 10.1056/NEJMoa2021372.
  2. Tardif JC, Kouz S, Waters DD, et al. Efficacy and Safety of Low-Dose Colchicine after Myocardial Infarction. N Engl J Med. 2019 Dec 26;381(26):2497-2505. doi: 10.1056/NEJMoa1912388.
  3. Tong DC, Quinn S, Nasis A, et al. Colchicine in Patients with Acute Coronary Syndrome: The Australian COPS Randomized Clinical Trial. Circulation. 2020 Aug 29. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.120.050771.
  4. #DOENCA_CORONATIANA_ESTÁVEL

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