Dispositivo dielétrico remoto versus ultrassom de pulmão, estudo apresenta novidades
20/07/2023, 16:08 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Análise do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia foi publicada
na ABC Imagem Cardiovascular
Até a década de oitenta, acreditava-se ser impossível realizar o exame de ultrassom de pulmão, pela quantidade de ar no órgão. Quando o doutor Daniel Lichtenstein, médico intensivista, percebeu que o exame seria importante para detectar a quantidade de líquido pulmonar de pacientes graves, o cenário mudou. Desde então, vários estudos surgiram confirmando a observação.
O artigo Congestão Pulmonar em Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida: Comparação Entre o Ultrassom de Pulmão e o Dispositivo Dielétrico Remoto compara o ultrassom de pulmão com outros métodos e dispositivos na detecção de líquido extravascular pulmonar.
O estudo acaba de ser divulgado na ABC Imagem Cardiovascular, publicação do Departamento de Imagem Cardiovascular (DIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Ele compara dados do dispositivo dielétrico remoto (DDR) com parâmetros clínicos, medidas de ecocardiograma transtorácico e ultrassom de pulmão.
A análise foi realizada em pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e envolveu, entre outros profissionais do Instituto, Jorge Assef, coordenador dos ambulatórios, Edileide de Barros Correia, que coordena e atende no ambulatório de Insuficiência Cardíaca, e Maria Estefânia Otto, cardiologista e autora principal do artigo.
“Nós tivemos a informação que o dispositivo dielétrico remoto, um dispositivo de detecção de líquido desenvolvido por Israel muito sensível e com um preço elevado, poderia ficar emprestado por alguns dias no Instituto”, explica Maria Estefânia.
Para a investigação, o DDR foi incluído na rotina de acompanhamento de alguns pacientes selecionados de forma voluntária, consecutiva e aleatória. “Conseguimos observar que dentre vários parâmetros de ecocardiograma, laboratório e ultrassom de pulmão, as linhas B se destacaram com alta sensibilidade para detecção de aumento significativo de líquido extravascular pulmonar”, diz a cardiologista.
O principal achado do estudo, segundo ela, deixa explícita a correlação entre as linhas B do ultrassom com um dispositivo de alta acurácia para detecção de congestão pulmonar. “Há a possibilidade da utilização do ultrassom no controle de congestão pulmonar ambulatorial, minimizando custos de internações frequentes e otimizando o uso de diuréticos”, explica.
O estudo não é o primeiro nacional a demonstrar resultados que apontam para a relevância do exame de ultrassom do pulmão. Maria Estefânia explica que dois estudos brasileiros, citados como referência no artigo, influenciaram a pesquisa.
“Um deles re-classificou o escore de Killip do infarto agudo com ultrassom de pulmão, chamando-o de Lucky, e observou que 18% dos pacientes pioram o grau de congestão pulmonar com uso do exame”, conta a autora.
O segundo avaliou pacientes ambulatoriais e observou que a contagem de linhas B acima de 15 no ultrassom de pulmão aumenta a chance de internação dos pacientes.
A pesquisadora afirma que uma futura investigação com maior número de pacientes, incluindo dados de prognóstico e qualidade de vida, além do possível treinamento de clínicos para a utilização do método ambulatorial, é de interesse científico e clínico.