Crianças acima do peso possuem 75% mais chance de se tornarem adolescentes obesos
24/02/2022, 16:42 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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A obesidade é um dos fatores de risco para a doença das artérias, chamada de aterosclerose, que se inicia ainda na primeira infância
Uma a cada três crianças no Brasil está acima do peso considerado normal para a sua idade. Crianças acima do peso possuem 75% mais chance de se tornarem adolescentes obesos, enquanto adolescentes obesos têm 89% mais chance de se tornarem adultos obesos. No país, uma a cada quatro pessoas com 18 anos ou mais já está em estado de obesidade, o que equivale a aproximadamente 41 milhões de indivíduos.
Neste 4 de março, Dia Mundial da Obesidade, é importante lembrar que a obesidade é um dos fatores de risco modificáveis para doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morte no mundo. Outros fatores de risco são hipertensão arterial, diabetes, sedentarismo, tabagismo, estresse e gorduras no sangue. Esses fatores de risco, quando presentes no indivíduo, contribuem para a formação das placas de ateroma (gorduras), evoluindo para a doença conhecida como aterosclerose, que acomete as artérias, podendo levar à obstrução desses vasos e, assim, ocasionar eventos cardiovasculares, como o AVC (acidente cérebro vascular), o IAM (infarto agudo do miocárdio) e também as doenças obstrutivas periféricas.
“Quando falamos de aterosclerose, precisamos lembrar que ela se inicia ainda na primeira infância. Por isso, é importante começar a prevenção e o acompanhamento o quanto antes”, declara a cardiologista Carla Lantieri, médica assistente da Disciplina de Cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC (Santo André, SP) e membro fundadora do Comitê da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A obesidade na infância e na adolescência também pode gerar altos índices de colesterol. O excesso de colesterol, especialmente as frações de LDL e não HDL, é perigoso para a saúde do coração.
Muitas vezes, a obesidade está associada ao sedentarismo, outro fator de risco. Esses fatores somados a uma alimentação com excesso de ultraprocessados e pouca ingestão de alimentos “in natura” ou minimamente processados podem contribuir para o aparecimento precoce de diabetes, hipertensão arterial, colesterol e triglicérides elevados, que levam ao acometimento de vários órgãos alvos, como rins, fígado e olhos, por exemplo, além do coração.
Como combater?
As principais formas de combater a obesidade infantil são: alimentação saudável, comportamento ativo físico, atividade física regular e cuidados com a saúde mental e emocional de crianças e adolescentes.
“Uma grande ferramenta para obter as orientações corretas sobre alimentação saudável é o Guia Alimentar para a População Brasileira, que é de fácil acesso e disponível gratuitamente para todos”, cita Carla.
Com relação à atividade física, crianças e adolescentes de até 18 anos precisam praticar no mínimo 300 minutos por semana, para deixar a condição de sedentário, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para adultos, são 150 minutos mínimos de atividades físicas semanalmente.
E aqui vai um recado importante: a atividade física precisa ser prazerosa. Vale lembrar, ainda, que não se trata, obrigatoriamente, do exercício físico. Atividade física é toda aquela que faz o corpo ficar em movimento, como subir e descer escada, dar uma volta no quarteirão, andar com cachorro, limpar, lavar e varrer.
“Mas a preocupação vai além do físico. Muitas vezes, crianças que não são diagnosticadas com a saúde mental alterada, passam por momentos de estresse, crise de ansiedade, pânico e até depressão. A própria vulnerabilidade social pode influenciar no aumento da obesidade”, ressalta Carla.
Durante a pandemia, com o isolamento social e o cancelamento das aulas, muitas crianças deixaram de praticar atividades físicas. Quando a criança permanece só em casa, passa a ter uma rotina diferente da habitual. Em um espaço físico menor, diminui seu tempo de atividade física e aumenta o tempo na frente das telas. Praticando atividades menos ativas, seu gasto energético é menor, o que pode propiciar o ganho de peso.
“Isso sem falar do alto grau de estresse, das famílias enlutadas e outras tantas expostas a dificuldades econômicas e sociais. Todos esses fatores têm corroborado para a diminuição da saúde das nossas crianças”, aponta a cardiologista.
Educação
Só com ciência e educação juntas é possível mudar a realidade da obesidade infantil, no Brasil e no mundo. “É fundamental chegar à população leiga e esclarecer a importância do cuidado com a sua saúde. Não podemos cruzar os braços e esperar que a população adoeça. Essa guerra, que é a epidemia da obesidade, só vai ser vencida com muita união entre toda a sociedade: pais, responsáveis, governo, escola, sociedades de especialistas e instituições, dos mais diversos setores”, expõe Carla.
Para levar essa conscientização à população, a Sociedade Brasileira de Cardiologia criou, em 2007, o SBC vai à Escola, que desde então tem feito várias parcerias para sua expansão a diversos municípios e estados brasileiros. Já são mais de 80.000 crianças dentro do programa, que foi reformatado na pandemia, passando a ter versão online.
Seu objetivo é levar às escolas orientações contínuas de como criar um estilo de vida saudável. “Quando falamos em criança e adolescente, temos de focar muito nos fatores protetores, que são: alimentação saudável, atividade física regular, saúde mental e saúde espiritual, que é buscar a felicidade, fazer o que se gosta”, explica Carla, que também é coordenadora geral e pesquisadora principal do programa SBC vai à Escola.
A SBC, ainda, engaja a sociedade promovendo dias temáticos, com ações no Dia Mundial da Atividade Física (06/04), no Dia Mundial da Alimentação (16/10), no Dia Nacional do Combate à Hipertensão (26/04), no Dia Mundial da Obesidade (04/03), no Dia Mundial do Coração (29/9), entre outras datas, destacando a necessidade do diagnóstico e da prevenção das doenças e promoção da saúde.
“Quando diagnosticamos a obesidade na criança e no adolescente, existe a necessidade de se fazer o tratamento, porque obesidade é doença. Também é necessário cada vez mais evitar que elas adoeçam e, para isso, precisamos ensiná-las a criarem um estilo de vida saudável. Saúde se constrói com educação”, encerra Carla.