O objetivo era avaliar as diferenças na adesão à prevenção secundária farmacológica a partir do tratamento definido

O estudo Prevenção Farmacológica Secundária da Doença Arterial Coronariana em Pacientes Submetidos a Tratamento Clínico, Intervenção Coronária Percutânea ou Cirurgia de Revascularização do miocárdio, recém-publicado na ABC Cardiol, publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), acompanhou pacientes com doença arterial coronariana (DAC) estável por cinco anos para identificar o seguimento do tratamento.

A avaliação investigou se o tratamento clínico, a intervenção coronária percutânea (ICP) ou o tratamento por cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) têm influência na adesão dos pacientes à prevenção secundária farmacológica.

O estudo começou em 2010 a partir da tese de mestrado de Felipe Fuchs, cardiologista intervencionista, membro titular da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) e coautor do artigo.

“Nesse estudo, o foco é na questão da terapia medicamentosa, no tratamento clínico prescrito e utilizado pelos pacientes.”, detalha Felipe.

Os pacientes em investigação de doença arterial coronariana eram encaminhados para o cateterismo cardíaco eletivo e entrevistados para uma coleta de informações, o que originou um banco de dados completo. Além de variáveis demográficas, pressão arterial e medidas antropométricas, foi realizada coleta de sangue para avaliação de perfil lipídico, glicemia, entre outros exames laboratoriais.

Felipe comenta que as coortes de pacientes com doença arterial coronariana são estudos clássicos da cardiologia, mas explica que foi um ensaio clínico que influenciou diretamente a realização do presente estudo.

“Na época do meu mestrado tinha recém-saído o estudo SYNTAX, um ensaio clínico que desenvolveu um escore anatômico de complexidade da doença arterial coronariana baseada no cateterismo cardíaco”.

O estudo citado pelo cardiologista randomizou pacientes para tratamento percutâneo com stent farmacológico e cirurgia e utilizou esse escore como uma ferramenta de avaliação da extensão da doença do ponto de vista anatômico.

“O escore era uma novidade na época e decidimos avaliar os pacientes a partir desse score de complexidade anatômica, e investigar o que iria acontecer com eles, que tipo de tratamento iriam receber”, diz Felipe.

Pacientes com uma complexidade maior da doença e que foram submetidos a CRM são os que mais estão em uso de prevenção secundária medicamentosa, é o que mostra os principais resultados do estudo.

“De certa forma é um resultado esperado, pois mostra que esses pacientes têm uma percepção maior da gravidade da sua doença e acabam se policiando mais a tomar as medicações, para não ter que passar de novo por uma situação estressante como uma cirurgia”, comenta Felipe.

Pacientes em tratamento clínico desde o princípio acabam tendo a percepção de ter uma doença menos complexa, e acabam não sendo tão rigorosos no tratamento quanto os outros.

“É importante ressaltar que, nessa coorte,não incluímos pacientes em situações agudas, como infarto, e sim somente aqueles que tinham a doença arterial coronariana estável”, ressalta o cardiologista.

Ele ainda comenta a respeito da longevidade do estudo. “A partir desta coorte, já publicamos outros trabalhos, que avaliaram qualidade de vida de acordo com o tratamento realizado, associação de variáveis antropométricas com desfechos clínicos entre outros”. E os pacientes seguem em acompanhamento.

O cardiologista tem a expectativa de continuar acompanhando esses pacientes a longo prazo, para avaliar a progressão da doença e efeitos de cada tratamento.