Congresso Brasileiro de Cardiologia integra o melhor da ciência cardiovascular com a inovação
13/08/2021, 15:47 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Evento se tornou um dos maiores encontros de atualização científica, profissional e de unidade dos cardiologistas
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), ao longo dos seus 78 anos, atuou pelo desenvolvimento científico, o que tornou a cardiologia brasileira uma das mais avançadas do mundo e vem contribuindo para a prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares.
A história da entidade, que se confunde com a própria história da cardiologia brasileira, desenvolveu-se juntamente com a especialidade, que evoluiu rapidamente no Brasil e no mundo, assim como as doenças cardíacas, que se tornaram a principal causa de mortes e morbidades globalmente, acarretando enormes perdas humanas e gastos astronômicos.
Por outro lado, os progressos científicos e os avanços técnicos criaram poderosos instrumentos diagnósticos e novas formas de tratamento. E nessas quase oito décadas, a SBC cresceu de modo exponencial, não apenas acompanhando o desenvolvimento da cardiologia, mas indicando e iluminando os caminhos da especialidade.
“Hoje, a SBC é a maior sociedade de cardiologia latino-americana e a terceira do gênero no mundo, quanto a número de sócios, chegando a 14 mil. O Congresso Brasileiro de Cardiologia (CBC), realizado pela primeira vez em 1945, tornou-se a principal atividade científica anual da entidade, levando conhecimento científico, prática médica, ensino, pesquisa e atualizações aos cardiologistas e profissionais de outras especialidades médicas, como clínicos, intensivistas, profissionais da Estratégia de Saúde da Família e geriatras. Estamos certos de que essa é a nossa grande contribuição para o avanço da cardiologia e da medicina brasileira”, garante Celso Amodeo, presidente da entidade.
Ao longo de sua trajetória, o CBC que nasceu pequeno, até pela quantidade de cardiologistas existentes no país à época, foi se firmando e tornou-se o maior evento da especialidade na América Latina e o quarto do mundo.
“Comecei a frequentar o CBC oficialmente em 1961, em Curitiba, ainda como acadêmico de Medicina (sexto-anista), já como membro da Comissão de Divulgação, pois na época era também jornalista do Diário do Paraná, órgão dos Diários Associados e com participação esporádica na TV Paraná. Os congressos da SBC eram eventos de no máximo 600 inscritos, em nada parecidos com os atuais”, recorda Mario Fernando Camargo Maranhão, presidente da SBC no biênio 1982-1983.
Ele lembra que em 1972, no 28º CBC, também em Curitiba, presidido por Helio Germiniani, quando foi membro da Comissão Científica, o evento atraiu muitos conferencistas internacionais.
“Já em 1981, coube a mim organizar e presidir o 37º CBC, novamente na capital paranaense, sendo o primeiro em colaboração com a Central de Eventos da SBC, presidida por Ely Toscano Barbosa. Na Assembleia Geral realizada ali, fui eleito presidente da SBC, sucedendo Ennio Lustosa Cantarelli”, comenta Maranhão.
Protásio Lemos da Luz, professor titular sênior de Cardiologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP), que participou de várias comissões na SBC e que foi secretário do Congresso Brasileiro de Cardiologia na gestão do ex-presidente da entidade Adib Domingos Jatene, entre 1985-1987, participou de todas as edições do CBC desde que voltou dos Estados Unidas, na década de 1970, e recorda que a estrutura do evento era muito menor, mais regional, com pouca participação de especialistas da América Latina.
A partir do momento em que começam a se multiplicar os trabalhos originais brasileiros apresentados nos maiores congressos internacionais, como os do American College of Cardiology (ACC), da American Heart Association e da European Society of Cardiology (ESC), a produção científica passou a ser mais diversificada, abrindo espaço para a internacionalização do CBC e, consequentemente, da SBC.
“O formato do Congresso ficou mais profissional, com temas específicos, e a organização da estrutura física foi ampliada, assim como a parte científica, promovendo um avanço grande ao CBC e à cardiologia brasileira”, comenta Luz, ressaltando que a aproximação com as entidades internacionais tem trazido bons frutos à SBC e aos cardiologistas brasileiros.
“A inserção da Sociedade Brasileira de Cardiologia, nas últimas décadas, no cenário mundial, fez ampliar a participação das entidades internacionais no CBC de maneira mais intensa, elevando o nível do ponto de vista científico do evento, com a presença de profissionais da mais alta competência e influência na cardiologia mundial. Em paralelo, os cardiologistas brasileiros também participaram mais dos congressos americanos e europeus e essa inter-relação internacional elevou o nível científico do Congresso Brasileiro de Cardiologia e, consequentemente, da especialidade no país”, destaca o professor.
Pioneirismo
O inegável prestígio e reconhecimento internacional da SBC, adquirido pelas últimas administrações da entidade, segundo Mário Maranhão, foi fruto de um trabalho nas décadas de 1970 a 1990, que pavimentaram as relações internacionais com as principais entidades.
Para isso, contribuíram decisivamente o 13º do Congresso Interamericano de Cardiologia, em 1989, e o 13º Congresso Mundial de Cardiologia, em 1998, ambos realizados na cidade do Rio de Janeiro.
“Durante o período que estive na presidência da Sociedade Interamericana de Cardiologia, houve um amadurecimento científico da cardiologia brasileira, sendo que de 1989 a 1992, 12 delegações de renomados especialistas nacionais puderem ombrear com seus colegas norte-americanos, nos maiores santuários dos Estados Unidos, como a Mayo Clinic, a Cleveland Clinic, por exemplo, contando com a participação de representantes como Adib Jatene, José Eduardo de Sousa, para citar apenas alguns nomes”, conta Maranhão, que ainda lembra que nos dez anos que esteve na diretoria da World Heart Federation (WHF), da qual foi presidente entre 2001-2002, abriu as portas da maioria dos eventos internacionais para os especialistas brasileiros e da América Latina, já que esta entidade estava representada pela primeira vez por um cardiologista nascido e atuante no continente americano.
Foi nessa época, em 1993, que o atual diretor científico da SBC, Fernando Bacal, começou sua atuação em insuficiência cardíaca e transplantes de coração e passou a participar dos Congressos anuais da entidade. “Era um número bem menor de salas de atualizações, de demonstrações de experiências e casuísticas dos principais centros nacionais e menor abertura da internacionalizada da SBC. Hoje, temos uma extrema participação das principais entidades internacionais, inclusive das de língua portuguesa, e um grande aumento dos estudos clínicos randomizados, que se tornaram uma tradição agora nos CBC e da medicina baseada em evidência”, conta Bacal.
Mas há quase 30 anos, segundo o diretor científico, o Congresso já era uma grande oportunidade de atualização, pois era a maneira de se encontrar com os grandes especialistas e promover a troca de experiência prática para ajudar no manejo dos pacientes. “Atualmente, o CBC é um congresso voltado para internacionalização dos grandes estudos clínicos e muito focado na inovação e na fronteira do conhecimento”, explica Bacal.
Opinião reiterada por Celso Amodeo, que vê a evolução do Congresso pelo número de participantes que foi aumentando progressivamente, chegando a 8 mil congressistas presenciais, em 2019, e há 18 mil participantes, em 2020, quando pela primeira vez o evento foi realizado no formato virtual, devido à pandemia da Covid-19.
“É um congresso extremamente importante porque traz tudo aquilo que se tem de novo dentro da área da cardiologia, comenta a nossa prática clínica diária e é todo realizado a partir da medicina baseada em evidência, com a apresentação de grandes estudos, de onde se tira a melhor conduta para uma boa prática clínica dos pacientes”, afirma o presidente da SBC.
Para Bacal, o desafio de realizar o 75º CBC, em 2020, foi promover um evento totalmente digital que atendesse a todos, com uma grande abrangência de assuntos, desde a discussão da atualização de casos clínicos até medicina de ponta, a inovação que é muito importante para o pesquisador, que está na fronteira do conhecimento.
“A desvantagem foi não ter como fazer o networking, fundamental na nossa profissão, que era proporcionado pelo evento presencial. Mas o formato digital proporcionou estar disponível para mais pessoas e um grande prestígio para as apresentações do temas livres orais, que tiveram uma audiência de mais de 3 mil congressistas”, conta o diretor.
O 76º Congresso Brasileiro de Cardiologia, que será 19 a 21 de novembro, e, assim como em 2020, terá formato digital, pretende repetir o êxito da edição passada, reafirmando o compromisso da SBC de levar educação médica continuada em cardiologia de qualidade a todos os médicos do país, cumprindo, assim, o objetivo de contribuir com a qualificação dos cardiologistas, para reduzir os óbitos por doenças do coração.
“Vamos manter a valorização de espaço para os principais temas livres, um momento de destaque aos pesquisadores brasileiros nas diversas categorias. Mantendo a tradição, teremos os simpósios realizados em conjunto com entidades internacionais parceiras – ACC, AHA, ESC, WHF, International Society of Cardiovascular Pharmacotherapy (ISCP), sociedades latino-americanas e de língua portuguesa. Os departamentos, que são a base científica da SBC, estão elaborando suas mesas para conferências ao vivo e on demand”, destaca Bacal, que revela que haverá sessões de Global Health, em que se discutirão aspectos da saúde cardiovascular no âmbito internacional, com palestrantes de outros países, que versarão sobre tecnologia, inovação, Covid-19, entre outras temáticas atuais, e ao fim de cada dia, terão os highlights do evento.
A novidade da edição deste ano do CBC será a realização de TED Talks com temas não ligados à medicina, mas que trazem aplicações à área médica, com questões filosóficas de superação, saúde mental, de preparação física, com palestrantes de sucesso nas plataformas digitais.
“Serão palestras curtas que trarão reflexões importantes para nós como médicos e cardiologistas”, antecipa o diretor científico.
Congresso Mundial em 2022
No ano que vem, o Brasil novamente será palco do maior e mais importante acontecimento da cardiologia mundial. A cidade do Rio de Janeiro sediará o World Congress of Cardiology (WCC), liderado pela WHF. O evento será em outubro, no Centro de Convenções Riocentro, com o 77º Congresso Brasileiro de Cardiologia.
Desde 1950, o WCC tem se destacado no calendário da especialidade, oferecendo uma perspectiva verdadeiramente global sobre a saúde do coração e reunindo milhares de profissionais da cardiologia de todo o planeta, com o objetivo comum de reduzir o impacto das doenças cardiovasculares no mundo.
Esta será a segunda vez do WCC no Brasil. A 13ª edição do evento internacional, que ocorreu em 1998, também no Rio de Janeiro, quando reuniu 20 mil participantes, teve à frente da Comissão Organizadora, Mário Maranhão. Ele lembra que na época, o Congresso Mundial foi considerado o maior evento de todos os tempos da cardiologia.
“Esse evento elevou a especialidade, com o alto nível científico, um recorde de simpósios satélites e uma grande exposição. Foi considerado um case de sucesso, injetando US$ 50 milhões na indústria do turismo na cidade e deixando um lucro financeiro de US$ 2 milhões, sendo metade para a SBC”, pontua Maranhão.
O professor Fausto Pinto, presidente da WHF atualmente, diz que será um prazer ver a SBC se juntar a entidade internacional e a toda a comunidade do sistema cardiovascular neste que será o primeiro Congresso Mundial de Cardiologia totalmente híbrido, com um programa completo de sessões presenciais e virtuais.
Com uma estimativa de 30 mil participantes, muitos deles internacionais, o WCC movimentará a cidade também do ponto de vista econômico: a expectativa de receita com turismo é de US$ 50 milhões, além de reunir os melhores médicos da especialidade.
Já o 77º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em 2022, voltará ao formato presencial após um interlúdio de dois anos com edições digitais. Com o WCC, a SBC espera uma edição com recorde de público.
Este gigantesco empreendimento terá à frente a Andréa Araújo Brandão, atual diretora de Departamentos Especializados, com vasta experiência em organização de eventos na área de cardiologia.
“Estamos muito satisfeitos com este desafio e daremos o nosso melhor para organizar o melhor congresso de cardiologia que o Brasil já teve. Após um intervalo tão longo devido à pandemia, estamos ansiosos para encontrar nossos amigos da cardiologia e continuar aprendendo cada vez mais sobre a doença cardiovascular. Em 2022, estaremos todos juntos no Rio”, comemora.