COMPLETE: Lesão culpada ou Revascularização Completa no IAM em pacientes multiarteriais
30/01/2020, 14:52 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Revisor: Vinícius Esteves
Fundamentação: na vigência de infarto agudo do miocárdio (IAM) com supradesnivelamento do segmento ST a angioplastia primária representa a principal estratégia terapêutica de reperfusão, reduzindo mortalidade cardiovascular e eventos isquêmicos. No entanto um número considerável dos pacientes referenciados para esse tipo de tratamento apresentam doença coronariana multiarterial (anatomia descoberta de forma acidental durante o cateterismo diagnóstico na vigência do IAM), permanecendo como foco de debate se nesse primeiro procedimento os mesmos deveriam ser submetidos a revascularização completa ou apenas da lesão culpada pelo evento agudo.
Metodologia: apresentado no último congresso da Sociedade Européia de Cardiologia (ESC) e publicado no New England Journal of Medicine em outubro de 2019, o estudo COMPLETE trouxe dados extremamente importantes e com perspectiva de mudanças em diretrizes. Multicêntrico (140 centros em 31 países), randomizou 4041 pacientes com doença arterial coronária multiarterial na vigência de IAM para tratamento apenas da lesão culpada ou revascularização completa (importante ressaltar que essa estratégia foi realizada no procedimento index ou numa segunda intervenção com o tempo médio de 23 dias). O primeiro desfecho analisado foi o composto de morte ou infarto agudo do miocárdio e o segundo o composto de mortalidade cardiovascular, infarto agudo do miocárdio e revascularização guiada por isquemia.
Principais Resultados: após 3 anos de acompanhamento clínico a incidência do desfecho primário foi de 7,8% no grupo revascularização completa contra 10,5% no grupo lesão culpada (p = 0,004). Em relação ao segundo desfecho a incidência foi de 8,9% x 16,7% (p < 0,001) a favor do grupo revascularização completa. Também houve benefícios em relação aos desfechos secundários de Angina Instável e insuficiência cardíaca congestiva classe funcional IV (NYHA) favorável ao grupo revascularização completa.
Conclusão: em pacientes com doença coronária multiarterial e na vigência de IAM com supradesnivelamento do segmento ST, a estratégia de revascularização completa foi superior ao tratamento apenas da lesão culpada, reduzindo o risco de mortalidade cardiovascular ou infarto, assim como mortalidade cardiovascular, infarto ou revascularização guiada por isquemia.
Impacto Clínico na Opinião do Revisor: o estudo COMPLETE apresentou metodologia e resultados consistentes, comprovando a recomendação de que os pacientes multiarteriais na vigência de IAM devem receber uma estratégia de revascularização completa, visando a redução de eventos cardiovasculares “duros”, como mortalidade e infarto. Um dos pontos mais importantes do estudo aborda o momento ideal de complementar o tratamento. É clara a mensagem de que os pacientes com esse perfil e apresentação clínica podem ser submetidos a tratamento da lesão culpada no momento da primeira abordagem e o estagiamento nos dias seguintes, justificando a decisão em sala dos Cardiologistas Intervencionistas de não realizar todo o tratamento em apenas um procedimento, muitas vezes por se tratar de anatomias extremamente complexas que necessitam de maior carga de contraste, radiação e planejamento para a sua realização. Considera-se que os resultados do COMPLETE tragam embasamento suficiente para que na próxima atualização das diretrizes internacionais sobre o tema, a revascularização completa seja elevada a Classe I A de recomendação para pacientes com IAM com supra e doença coronariana multiarterial.
Referências:
- Mehta SR, Wood DA, Storey RF, Mehran R, Bainey KR, Nguyen H. Complete Revascularization with Multivessel PCI for Myocardial Infarction. N Engl J Med. 2019;381(15):1411-1421.