Comparação entre angioplastia robótica e angioplastia convencional
02/07/2020, 10:30 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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- Gabriella Cunha Lima - Fellow em Cardiologia Intervencionista Complexa do Hospital Israelita Albert Einstein
- Fredric Assis P. Oliveira - Fellow em Cardiologia Intervencionista Complexa do Hospital Israelita Albert Einstein
- Pedro Alves Lemos Neto - Coordenador do Centro de Intervenção Cardíaca Complexa do Hospital Israelita Albert Einstein
Fundamentação: A cardiologia intervencionista é uma subespecialidade em constante evolução , desde sua primeira intervenção em 1977 novos cateteres , fios – guia , dispositivos de imagens intravasculares, abordagens híbridas, são idealizados a cada dia, porém no que diz respeito a riscos ocupacionais para os operadores e para equipe do laboratório de hemodinâmica pouco se evoluiu. O cardiologista intervencionista trabalha sob fluoroscopia direta, com necessidade de roupas protetoras pesadas, exposição cumulativa, lesões ortopédicas. Em 2005 foi desenvolvido por Beyar et all o sitema de Intervenção coronariana percutânea assistida por robótica ( R-ICP). O operador controla as transações processuais de um cockpit localizado significativamente longe do paciente e a fonte de radiação, consequentemente benefício para o operador com uma significativa redução da exposição à radiação, porém para o paciente nenhum benefício foi comprovado.
O sitema robótico CorPath GRX aprovado pelo FDA para uso rotineiro nos Estados Unidos em 2016 permite ao operador manipular o cateter guia, a corda- guia 0.014 e um balão ou stent independentemente, bem como avançar ou realizar manobras no sentido horário ou anti- horário , todos com possibilidades de movimentos simultâneos. Os dois componentes principais são um braço robótico montado na lateral da mesa de cateterismo e uma mesa para controle do intervencionista, blindada de radiação.
Metodologia: Publicado em março de 2020 no Circulation, o estudo Comparison of Robotic Percutaneous Coronary Intervention With Traditional Percutaneous Coronary Intervention. O estudo foi prospectivo, unicêntrico , realizado na Índia no Apex Heart Institute, Ahmedabad, onde foram estudados 996 pacientes consecutivos encaminhados para ICP entre dezembro de 2017 e março de 2019, dos quais 310 (31,1%) pacientes foram selecionados para realizar R-ICP e 686 (68,9%) pacientes foram submetidos à ICP tradicional (ICP-T).
O desfecho primário foi kerma no ar , dose de radiação, tempo de fluoroscopia, volume de contraste e tempo total de procedimento. Eventos cardiovasculares adversos graves definido como um composto de revascularização do vaso alvo,infarto do miocárdio (IAM) não fatal, definido como pós-ICP nível de CK-MB (isoenzima creatina quinase-MB)> 3 × o limite superior da normalidade ou clínica com IM, e a morte foi registrada em 30 dias. O mesmo sistema de calibração da máquina foi utilizado.
Principais Resultados: Foram 1022 pacientes submetidos à ICP no Apex Heart Institute porém 26 destes procedimentos foram excluídos por serem realizados por operadores sem grande expertise no método, 22 pacientes necessitaram de crossover para (ICP-T). Os pacientes submetidos à R-ICP eram mais jovens e mais propensos a serem do sexo masculino, hipertensos, diabéticos e com tendência a terem realizado procedimento anterior e cirurgia de revascularização do miocárdio. Não havia diferenças significativas no IM prévio, tabagismo, hiperlipidemia, altura e peso entre os dois estudos grupos. A fração de ejeção do ventrículo esquerdo (%) foi significativamente maior em pacientes submetidos à R-ICP em comparação com T-PCI. Pacientes que apresentaram com síndrome coronariana aguda ao procedimento T-PCI. Pacientes submetidos a R-PCI tiveram maior probabilidade de ter uma pontuação SYNTAX mais baixa em comparação com os pacientes submetidos à T-ICP.Não houve diferenças significativas nas taxas de oclusões totais e presença de tortuosidade severa entre os 2 grupos.
Pacientes com calcificações coronárianas graves eram mais propensos a receber T-PCI em comparação com R-PCI. O número de aquisições de cineangiografia foi significativamente maior no grupo T-PCI. AK (mGy; medianav[intervalo interquartil]; P; 884 [537–1398] versus 1110 [699-1498]; P = 0,002) e dose de área (cGycm2; 4734 [2695–7746] versus 5746 [3751-7833]; P = 0,003) foram significativamentemenor no grupo R-PCI. Não houve diferença no tempo de fluoroscopia (minutos; 5,51 [3,53–8,31] versus 5,48 [3,31-9,37]; P = 0,936) e volume de contraste (mL; 130 [103-170] versus 140 [100-180]; P = 0,905)O tempo total do procedimento em minutos foi significativamente maior no R-PCI grupo (27 [21-40] versus 37 [27-50]; P <0,0005). Não há diferenças nas taxas de revascularização do vaso-alvo, IM não fatal e morte entre os 2 grupos.
Conclusão: O R-ICP está associada a uma diminuição significativa na exposição à radiação para o paciente, sem aumento no tempo de fluoroscopia, bem como na utilização de contraste, e um pequeno aumento na duração do procedimento em comparação com a ICP tradicional.
Impacto Clínico na Opinião dos Editores: O benefício para o operador da plataforma robótica já se fez claro em várias séries prospectivas e ensaios clínicos.
A primeira série de R-ICP em humanos foi publicada em 2011, demonstrando a segurança do sistema CorPath 2000. A seguir, a segurança e eficácia do sistema CorPath 200 para R-ICP foi avaliada no mostrando a taxa de sucesso clínico de 97,6% e taxa de demonstração de sucesso técnico foi de 98,8%, demostrando ser um meio seguro e eficaz outros estudos como o estudo CORAPCI (Complex Robotically Assisted Percutaneous Coronary Intervention), avaliou lesões complexas demostrando que nestas lesões o tempo de procedimento foi semelhante , sem aumentar o tempo de fluroscopia. O que este último estudo demonstra é o que nenhum outro tinha demostrado até o momento, o real benefício para o paciente com redução significativamente a carga exposição à radiação para o paciente em comparação com intervenção coronária percutânea tradicional. O tempo de fluroscopia o uso de contraste não aumentaram de forma significativa. O tempo de procedimento foi maior, porém é necessário tempo para montar a estrutura da mesa, a colocação do cassete no braço robótico.
A angioplastia robótica é uma nova adição ao laboratório de hemodinâmica com futuro promissor, angioplastia de tronco de coronária esquerda já foram incluídas em estudo como o PRECISION, assim como bifurcações, aterectomia rotacional á laser e oclusão crônica também podem ser utilizadas.
Referência:
- Patel TM, Shah SC, Soni YY, et al. Comparison of Robotic Percutaneous Coronary Intervention with Traditional Percutaneous Coronary Intervention. Circ Cardiovasc Interv. 2020