Como a cognição e a saúde mental podem influenciar no quadro de insuficiência cardíaca de pacientes
27/02/2023, 16:43 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Estudo investiga fatores para além da saúde física em pacientes
admitidos com a condição
Em 18 anos, prevê-se que mais de 8 milhões de indivíduos serão afetados por insuficiência cardíaca (IC) nos Estados Unidos. O dado aponta um aumento de 46% entre 2012 e 2030. Cada vez mais, é preciso ter atenção a todo o estado do paciente, inclusive sua parte cognitiva.
O estudo Prevalence and Association Between Cognition, Anxiety, and Depression in Patients Hospitalized with Heart Failure foi publicado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) , periódico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), e busca investigar a relação entre cognição, depressão, ansiedade e a insuficiência cardíaca.
“Nós sabemos que a IC pode comprometer o estado cognitivo do indivíduo e que muitos podem sofrer de depressão e ansiedade. Nós gostaríamos de entender se esses fatores estariam associados e o quanto estariam presentes nesses indivíduos durante sua internação”, explica Luciana Janot de Matos, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein e principal autora do estudo.
Além dessa investigação, uma hipótese secundária apontava para uma possível influência desses fatores, cognitivos e de saúde mental, na reinternação em até 30 dias depois da alta hospitalar desses pacientes.
O estudo foi impulsionado, principalmente, pela necessidade de compreender a capacidade do paciente com IC de absorver as informações repassadas pela equipe multiprofissional no momento da alta.
O grupo amostral contou com 71 indivíduos que tinham sido internados por IC descompensada e atendiam a alguns outros fatores: eles não poderiam estar há mais de 30 dias internados e foram abordados 72 horas antes da alta, já com a previsão executada pelo médico titular.
“Nós aplicamos questionários nesses pacientes, um de rastreio de cognição, que tem a capacidade de fazer um rastreio amplo, vendo a possibilidade de alteração de cognição e um com uma escala que pode sugerir depressão e ansiedade”, diz Luciana.
Em mais da metade do grupo avaliado, majoritariamente composto por homens na terceira idade, algum tipo de prejuízo cognitivo foi identificado.
O que estava mais presente foi o de recall memorie, um tipo de memória tardia. Ao responder o questionário, o paciente precisava lembrar de três palavras em um curto período de tempo.
“Isso chamou a atenção porque damos uma série de informações para o paciente na alta, mas será que eles de fato conseguem absorvê-las?”, pontua Luciana.
O estudo comprova a necessidade de um maior acompanhamento desses pacientes, além de mais detalhamento no momento da alta.
“O segundo ponto foi a associação entre o estado de depressão e alteração cognitiva. O estado de depressão pode interferir na cognição e na memória, e nós achamos essa associação entre o prejuízo cognitivo e a depressão nesses pacientes”, diz Luciana.
Uma terceira análise presente no estudo foi a de evidência entre prejuízo cognitivo, o estado de saúde mental e a recorrência de admissão em até 30 dias após a alta. No entanto, não foi encontrada nenhuma comprovação dessa associação. Porém, Luciana possui uma hipótese para o resultado.
“Nossa amostra considera pacientes com alto poder aquisitivo, que muitas vezes têm pessoas que lhe auxiliam no momento e após a alta. Em um grupo amostral com população do Sistema Único de Saúde, por exemplo, teríamos o mesmo resultado? É algo a se considerar”.
Ela levanta a possibilidade de se aplicar a mesma análise em outros grupos para obter essa resposta.