Combate à hipertensão e políticas públicas é tema de evento promovido pela SBC
29/04/2021, 11:57 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Ainda em comemoração ao Dia Nacional do Combate à Hipertensão, sessão especial reuniu grandes nomes relacionados à saúde e cardiologia em âmbito mundial
No Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial, celebrado em 26 de abril, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) promoveu um evento online especial que reuniu nomes importantes da saúde em âmbito mundial para discutir o tema e chamar a atenção da importância desta data. Celso Amodeo, presidente da SBC; Socorro Gross, representante no Brasil da Organização Panamericana de Saúde (OPAS) / Organização Mundial da Saúde (OMS); Fausto Pinto, presidente da World Heart Federation (WHF); e Marcelo Queiroga, Ministro da Saúde e ex-presidente da SBC, contextualizaram o cenário no Brasil e no Mundo com relação a pressão arterial e seu combate. Também foram abordados os riscos da hipertensão e a importância de medidas de controle, tanto na saúde pública, como por parte dos indivíduos.
As doenças cardiovasculares são um problema de saúde pública mundial. De 1980 a 2008, houve um aumento muito significativo no número de hipertensos. Sendo que grande parte dessas pessoas não sabem que sofrem de hipertensão, mais especificamente, um em quatro homens e uma em cinco mulheres. São mais de 18 milhões de óbitos no mundo decorrentes dessas doenças prevalentes e a pressão arterial é o principal fator de risco cardiovascular. No Brasil, cerca de 300 mil mortes por ano ocorrem por doenças cardiovasculares. A cada dois minutos uma pessoa sofre um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto agudo do miocárdio. Isso é um fato muito importante, pois em 80% dos óbitos por AVCs e em 60% dos decorrentes infartos os pacientes apresentavam hipertensão arterial.
“O cenário é ainda mais grave quando se analisamos que 35% da população brasileira tem pressão arterial elevada. Desses hipertensos, 20% no máximo tem a pressão arterial controlada. Isso porque o grande problema que temos no Brasil é fazer com que as pessoas adiram ao tratamento tanto com medicamentos como com medidas não medicamentosas e práticas de vida saudável”, enfatiza Celso Amodeo, presidente da SBC.
A hipertensão arterial atinge prioritariamente a população de homens e também de baixa escolaridade e baixa renda, segundo dados da OPAS. Um em cada quatro brasileiros podem ter problemas de pressão e muitos não sabem. Trata-se de uma doença que tem fatores associados como a idade avançada, excesso de peso, ingestão de sal, consumo de bebidas alcoólicas, sedentarismo, porém ela pode atingir 15% das crianças e adolescentes.
Segundo Socorro Gross, representante da OPAS no Brasil, lamentavelmente a região das Américas é a mais obesa do mundo, tanto em termos de adulto, como de crianças. Esse cenário, por consequência, aumenta os riscos de doenças crônicas maiores, em especial pelo envelhecimento da população e pela própria densidade demográfica. Somado a isso, a falta de atividade física emerge como um vilão da saúde cardiovascular. Em um estudo feito pela organização, o Brasil, seguido por Costa Rica, Argentina e Colômbia, é o país que possui os maiores índices de sedentarismo, não só na região, como no planeta.
“Mudar a realidade só é possível com investimentos em políticas públicas a longo prazo e que mudam comportamentos da sociedade e criam ambientes mais saudáveis do que o que temos em nossas populações hoje em dia”, ressalta Socorro.
O Brasil no combate à hipertensão
A prevenção é o caminho mais indicado no combate a essa doença perigosa e silenciosa. O acompanhamento e a medição da PA devem começar cedo, assim como a prática regular de atividade física e aspectos nutricionais são fatores cruciais nas estratégias de prevenção e tratamento da HA. Porém, é importante falar que a hipertensão pode ser controlada.
Segundo Marcelo Queiroga, Ministro da Saúde e ex-presidente da SBC, o Governo Federal tem uma forte preocupação com esse cenário e por este motivo tem optado pela atenção primária e atuado em parcerias com a SBC, outras sociedades científicas, com os organismos unilaterais, como a OPAS e OMS, e com as sociedades internacionais, como é o caso da WHF. O Brasil tem hoje um orçamento de mais ou menos 23 milhões de reais e grande parte desse montante é para financiar as unidades básicas de saúde. No ano passado, 228 milhões de reais foram destinados para aumentar os cuidados e o atendimento imediato das pessoas com doenças crônicas não transmissíveis, voltados basicamente para hipertensão e diabetes.
As ações relacionadas à promoção e prevenção e também de combate a hipertensão, foram destacadas como um importante diferencial do Brasil. Um conjunto de iniciativas objetiva melhorar o atendimento ao público, incluindo uma cesta básica de medicamentos, comprovadamente eficaz no controle, desde que administrada de forma adequada. Além disso, também foi introduzido um programa de educação continuada nas 48 mil unidades de saúde, trazendo tópicos sobre hipertensão arterial e outros fatores de risco cardiovascular.
Queiroga enfatizou ainda que em breve será lançado um programa de telessaúde, que nesse primeiro momento vai abranger 140 unidades básicas de saúde do Brasil, sobretudo de áreas remotas, mas que em breve será levado para outras regiões. Dentro desse modelo, a telecardiologia será uma das especialidades contempladas. O Programa Previne Brasil, é o novo modelo de financiamento da atenção primária, que entre os dez indicadores que qualificam os municípios a receberem maior ou menor verbas, dois deles estão diretamente ligados às doenças cardiovasculares: acompanhamento de pessoas hipertensas e com diabetes.
“A adesão do Brasil a iniciativas mundiais é crucial para que se tenha sucesso no enfrentamento da verdadeira pandemia que há de doenças cardiovasculares. Vamos seguir atuando para mudar a história da nossa saúde. Hoje vivemos em um ambiente sanitário muito complexo, o Brasil é alvo dessa pandemia que há mais de um ano vem atacando a nossa sociedade. Os pacientes hipertensos apresentam risco maior quando infectados na Covid 19, mas estamos muito empenhados também em garantir a assistência em relação a outras doenças prevalentes como as doenças cardiovasculares”, ressaltou.
Além do enfrentamento da hipertensão, outros fatores de risco têm que ser alvo de interesse quando se refere ao combate a pressão arterial, não se pode dissociar da diabetes, obesidade, tabagismo, sedentarismo, e todas essas situações que podem ser controladas de maneira eficaz, contribuindo para redução da mortalidade por doenças cardiovasculares.
Atividade física e alimentação protagonistas no combate
Também merecem destaque na estratégia adotada no combate a hipertensão no Brasil os programas de Vigilância do Nutricional e do Consumo Alimentar da População Brasileira, a Estratégia Alimentar Brasileira, o Programa Crescer saudável, Guia Brasileiro de atividade física, Manual Alimentação Cardioprotetora, realizado em parceria com HCor, entre outros. Nos materiais técnicos tem os cadernos de atenção básica.
Segundo Socorro Gross, essas iniciativas são de suma importância, pois a atividade física e aspectos nutricionais têm grande importância tanto na prevenção como no tratamento da hipertensão. Isso porque o volume de sódio consumido na região das américas é mais do que o dobro do que é recomendado. Também foi registrado um aumento muito importante das vendas de alimentos multiprocessados, com excesso de açúcar, de baixa qualidade nutricional e de fast food, em substituição às comidas caseiras, com maior valor nutritivo.
“A maioria das pessoas não sabe quanto consome sódio, pois boa parte está escondida nos alimentos processados prontos para consumo. Esses materiais recomendam diretrizes mais saudáveis para a nossa alimentação. Devemos desembalar menos e descascar mais. Vimos agora, especialmente com pandemia, a mortalidade de pessoas por hipertensão crescer e por isso temos o compromisso de mudar a realidade, para que tenhamos mais anos de vida, mas com mais qualidade”, completou a representante da OPAS no Brasil.
A situação global da hipertensão arterial e seu impacto como fator de risco cardiovascular
A discussão contou ainda com a participação de Fausto Pinto, da World Heart Federation, organização que representa a comunidade cardiovascular global, que trouxe a visão da hipertensão em âmbito global.
A instituição desenvolveu um roadmap para ajudar a encontrar as melhores recomendações para enfrentar várias patologias, nesse caso de hipertensão arterial, com o objetivo de identificar os desafios e sugerir soluções e tópicos que podem ter impacto na saúde cardiovascular. Segundo ele, um dos gaps que se tem nesse sentido é que apenas uma minoria dos pacientes tem hipertensão controlada e este é um problema de nível global.
Pinto reforçou o posicionamento dos outros participantes em relação à gravidade e a necessidade de se combater a hipertensão, como também a posição exemplar do Brasil com relação ao enfrentamento do problema. Mas, por outro lado, ressaltou que o controle da hipertensão leva à redução dos eventos cardiovasculares. O fato de baixar a pressão arterial reduz de 35% a 40% o risco de AVC e 20% a 25% o de infarto do miocárdio por hipertensão.
“Um grande desafio é na identificação desses hipertensos e isso pode ser feito a partir de uma simples medição da pressão arterial. Por outro lado, a própria especialização profissional da saúde na forma como devem atuar, desenvolver recomendações que não sejam muito complicadas e que facilitem serem cumpridas e com medicamentos que sejam eficazes e com custo e benefício viáveis, fazem parte dessas diretrizes. Assim como as estratégias de educação do paciente para garantir a adesão ao tratamento e garantir que seja realizado a longo prazo. Afinal, um dos problemas que temos é que muitos deixam a medicação e sofrem as consequências”, finaliza.
Assista a Sessão especial - Dia Nacional de Combate à Hipertensão Arterial.