Cardiologistas alertam para necessidade de atenção a doenças do coração durante a pandemia
20/08/2020, 10:58 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Médicos lembram que cardiopatias são responsáveis por milhares de mortes todos os anos no Brasil e, por isso, não devem ser relegadas a segundo plano
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Em videoconferência promovida pela comissão externa de enfrentamento à Covid-19 nesta quarta-feira (19), cardiologistas chamaram a atenção para a necessidade de cuidados contínuos com os cardiopatas, mesmo durante a pandemia. O alerta feito é que, em razão da doença provocada pelo novo coronavírus, as pessoas deixaram de ir ao hospital com medo de se contaminar, mas continuaram morrendo de infarto e AVC.
“O excesso de mortes em 2020 decorre sobretudo de causas relacionadas à Covid-19 e até há uma redução nas notificações de mortes por infarto e AVC. No Brasil, houve uma redução da ordem de 12%. No entanto, as notificações de óbito por doenças cardíacas por causa indeterminada no domicílio aumentaram 50%”, observou o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Marcelo Queiroga.
Marcelo Queiroga: Brasil registra 380 mil mortes por
doenças cardiovasculares anualmente
Ele acrescentou que cardiologistas estão acostumados a lidar com mais de mil óbitos todos os dias no País, uma vez que doenças cardiovasculares lideram as estatísticas de mortalidade. “No Brasil, temos 14 milhões de indivíduos com doenças cardíacas e cerca de 380 mil óbitos todos os anos”, contabilizou Queiroga.
Por esse motivo, a SBC orienta que pacientes com cardiopatia, um fator que pode agravar a Covid-19, façam uso regular de seus medicamentos e procurem o médico se tiverem sintomas de doença cardíaca, como dor no peito, suor frio e palpitações. “O chamamento inicial para as pessoas ficarem em casa não pode ser levado ao pé da letra”, destacou Marcelo Queiroga. “Se o atendimento presencial não acontece, deve-se buscar a telemedicina.”
Segundo o cardiologista, o sistema público de saúde é fundamental no controle das cardiopatias no Brasil. Dados trazidos por ele, porém, indicam que há no País 885 municípios sem nenhum equipamento de eletrocardiograma e outros 1.814 com apenas um equipamento. Em geral, são municípios localizados em áreas remotas, o que dificulta ainda mais o atendimento.
O deputado Dr. Zacharias Calil (DEM-GO), que sugeriu a reunião técnica, acredita que a telemedicina pode ser utilizada nesses municípios, mas esbarraria em outro problema: “Cadê a internet para atuar nesse sentido?”, questionou.
Atenção primária
O atendimento na atenção primária à saúde também foi destacado na videoconferência como fundamental para identificar cardiopatas. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) reclamou que tem faltado esse tipo de prioridade. “A gente se preocupou muito com hospital e UTI e não se preocupou com em acompanhar os pacientes no território. É onde a gente tem que ver se tem hipertenso, se tem diabético, se o paciente toma o medicamento, se a pressão tá controlada.”
O coordenador-geral de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Márcio Irita Haro, informou que a pasta tem procurado trabalhar melhor em conjunto com as secretarias estaduais e municipais de saúde para que seja garantido o atendimento com um fluxo adequado para todas as doenças.
Crianças
Na audiência, a cardiopediatra Mirna de Sousa chamou a atenção para as mortes de crianças, que se dão em menor número na comparação com outras faixas etárias no caso da Covid-19. No entanto, cardiopatias e principalmente obesidade infantil podem se tornar fatores de risco.
Já o cirurgião cardiovascular Wilson Luiz da Silveira alertou para a diminuição no número de cirurgias eletivas realizadas em crianças, uma vez que durante a pandemia priorizaram-se os casos emergenciais. “Com a redução de cirurgias, o acúmulo da fila vai se aumentando. Isso é um problema sério, porque há crianças com cardiopatias menos graves, mas, quando ficam sem o serviço por muito tempo, a hipertensão pulmonar vai aumentando e a comorbidade também aumenta”, preocupou-se. “Crianças vão ser operadas tardiamente e com complicações maiores.”
Gustavo Sales/Câmara dos Deputados
Carmen Zanotto está preocupada com o adiamento
de cirurgias cardíacas por conta da pandemia
O receio da relatora da comissão externa, deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), é que não haja capacidade no próximo ano para atender às filas represadas durante a pandemia.
Márcio Irita Haro afirmou que o Ministério da Saúde deverá apresentar um plano de ação relativo a cardiopatias congênitas, uma das áreas prioritárias de sua coordenação. “É um tema complexo. É uma ligação entre obstetra, pré-natal, equipe anestésica, cirurgia e UTI de qualidade”, explicou.
Medicamentos
Em resposta a Carmen Zanotto, os médicos disseram que, na prescrição de medicamentos para a Covid-19, deve prevalecer a autonomia do médico.
“Uma coisa que tem me preocupado é a orientação para uso de medicação por não médicos, particularmente a ivermectina. Essa falsa sensação de proteção deixa as pessoas mais relapsas em relação ao uso de máscara, ao distanciamento e a aglomerações”, relatou a cardiopediatra Mirna de Sousa. “O uso das medicações é uma decisão do médico com seus pacientes, mas isso não pode acontecer do jeito que está acontecendo. Recebo mensagens do paciente já perguntando ‘qual a dose de ivermectina que eu tenho que usar?’”, completou.
Acompanhamento
A comissão externa de enfrentamento à Covid-19 foi criada pela Câmara dos Deputados para acompanhar as ações de combate ao novo coronavírus. O colegiado é coordenado pelo deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ).
Reportagem - Noéli Nobre
Fonte: Agência Câmara de Notícias
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