Características ecocardiográficas de pacientes internados na UTI de COVID-19 são avaliadas em estudo
11/04/2023, 18:43 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
Compartilhar
Realizado em 2020, estudo publicado este mês traz importantes dados sobre efeitos cardíacos da COVID-19
Estudos científicos que abordam as características ecocardiográficas em pacientes internados com COVID-19 em unidades de terapia intensiva (UTI) ainda são poucos. Um deles, realizado no Brasil em 2020, primeiro ano de pandemia do coronavírus, acaba de ser divulgado no International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), periódico da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Trata-se do artigo Echocardiogram in Critically ill Patients with COVID-19: ECOVID Study, que tinha como objetivo principal descrever as características ecocardiográficas de pacientes com COVID-19 em UTI e associá-las a achados clínicos, laboratoriais e possíveis desfechos.
“A pergunta do estudo partiu da seguinte dúvida: todos os internados com COVID-19 em UTI precisam fazer o ecocardiograma?”, explica Bruno Ferraz, cardiologista, ecocardiografista e um dos autores do estudo. A questão surgiu a partir da observação de que muitos pacientes apresentavam um exame completamente normal e isso aumentava a exposição de ecocardiografistas ao vírus.
Foram incluídos no estudo pacientes com COVID-19, internados na UTI há pelo menos 24 horas e que haviam realizado o ecocardiograma.
Além do objetivo principal, de traçar as característica do exame nesses pacientes, a análise buscou identificar qual achado clínico impactaria mais na definição de um ecocardiograma alterado.
“Definimos como um eco alterado qualquer um que apresentasse alteração de contratilidade tanto do ventrículo esquerdo quanto do direito, elevação da pressão de enchimento ou alguma alteração que exigisse a modificação do tratamento”, o autor explica.
De 140 pacientes analisados, 74 apresentaram um exame com alterações.Na análise univariada, as características associadas ao ecocardiograma anormal foram idade, doença renal crônica, troponina elevada, insuficiência cardíaca prévia e escore fisiológico agudo simplificado 3 (SAPS3).
A troponina e o escore SAPS3 foram marcadores independentes de ecocardiograma anormal.
“Imaginávamos que iria aparecer mais disfunção global do coração, e isso não ocorreu. Esses pacientes não tinham muita alteração na contratilidade do coração”, diz Bruno.
Para o autor, o resultado mais relevante do estudo foi o achado que a presença de ecocardiograma alterado esteve associada à maior mortalidade.
Na época de realização, os resultados da análise foram aproveitados pela equipe médica para selecionar com mais precisão os pacientes que possuíam mais urgência de realizar o ecocardiograma.