Adeus a Domingo Braile
22/03/2020, 13:52 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Faleceu nesta madrugada em sua casa, em São José do Rio Preto, SP, o cirurgião cardiovascular Domingo Marcolino Braile. Pioneiro que transformou a realidade da cirurgia cardíaca no Brasil, levando-a para o interior do País e tornando-a possível às populações distantes das capitais, Domingo Braile deixa um legado imensurável para a especialidade em todo o mundo.
São incontáveis as suas contribuições, mas as duas que se destacam são ter expandido as fronteiras da cirurgia cardíaca para todo território nacional e para outros países, e ter produzido equipamentos e materiais cirúrgicos acessíveis a toda população. Esses dois fatos são de importância inigualável e abrangência estupenda e marcam sua história de forma brilhante. Em 1963 trouxe de forma inédita a cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea para o interior do Brasil, precisamente para São José do Rio Preto, onde foi sócio fundador do Instituto de Moléstias Cardiovasculares de São José do Rio Preto.
Em 1977, fundou a Braile Biomédica, indústria rio-pretense de produtos e equipamentos paras cirurgias cardiovasculares. Graças a esta iniciativa e esforço, que envolveu sua esposa e filhas, realizou um dos seus maiores sonhos,prover o Brasil com materiais que fossem acessíveis a população brasileira. Ele foi além do sonho. Graças a sua indústria, o Brasil hoje é autossuficiente em produtos para cirurgia cardíaca. A empresa é referência mundial em válvulas, stents, oxigenadores e possui estado da arte na fabricação e em tecnologia de pesquisa avançada.
O cirurgião, a partir de 1968 foi por mais de 30 anos Diretor Clínico do Hospital Infante Dom Henrique da Beneficência Portuguesa de Rio Preto. Além da Beneficência Portuguesa, Hospital de Base de Rio Preto e do Hospital de Clínicas da UNICAMP, criou e implantou 21 Serviços Médicos em diversos Centros e Hospitais, exercendo o cargo de Chefia do Serviço de Cirurgia Cardíaca e Residência Médica em 7 deles.
Domingo Braile foi Professor Titular Livre Docente em Cirurgia Cardíaca e um dos fundadores da Faculdade de Medicina de Rio Preto, onde além de professor foi Pró-Reitor de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde. Foi consultor ad hoc do CNPq e Fapesp. Orientador da Famerp, da UNICAMP e da EPM UFSP. Realizou 25 mil cirurgias cardíacas, participou de mais de 200 bancas examinadoras e orientou mais de 50 dissertações e teses. Proferiu mais de 1000 conferências, apresentou mais de 700 trabalhos e recebeu mais de 50 prêmios.
Foi presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e por 18 anos o Editor Chefe da revista da entidade, tornando a Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery na única publicação internacional do hemisfério sul com a indexação nas principais Bases de Dados do mundo. Também criou as homepages da SBCCV e do BJCVS. Foi membro de 25 Conselhos Editoriais e publicou 19 capítulos.
Foi autor de dois livros: Millenium (2000) e Crônicas de um Médico do Sertão (2009). Foi colunista de jornais de Rio Preto, com mais de 1000 artigos publicados.
Foi agraciado com vários títulos, medalhas e prêmios, dentre os quais destacam-se a Comenda da Ordem do Ipiranga, conferido pelo Governador do Estado de São Paulo José Serra, reservada aos cidadãos que prestaram serviços notórios, o título de Membro Honorário da Academia de Medicina do Piauí, quando recebeu a Comenda da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí.
Em 2014 tornou-se Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Em 2013 conquistou o Prêmio Nacional Finep de Inovação 2013 – Categoria Média Empresa – concedido pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Em 2012 recebeu o Prêmio Benedicto Montenegro concedido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e o Prêmio INOVA ABIMO 2012 concedido pela Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO).
É Imortal da Academia de Medicina de SP. É Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. É Membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura.
Piloto privado IFR de avião e planador desde 1955, o cirurgião contabilizava mais de 20.000 horas de voo em 52 anos de aviação. Foi presidente do Aero Clube de Rio Preto por 12 anos e vice-presidente por 18 anos. Médico Examinador da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) à Concessão ou Revalidação de Certificado de Capacidade Física para as categorias de Piloto Privado e Piloto Aerodesportivo - Licenças PP, PPH e PPL.
Foi o representante do executivo municipal na comissão interdisciplinar que instalou em Rio Preto o Parque Tecnológico (Par Tec) da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico de São Paulo. Na Fazenda Santa Maria, em Monções, interior de São Paulo, o cirurgião se dedicava ao agronegócio, com plantel premiado de bovinos.
O cirurgião cardiovascular Domingo Marcolino Braile nasceu em Nova Aliança em 08 de Abril de 1938. Filho do médico Lino Braile e de Maria Neviani Braile, graduou-se médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Domingo Braile foi casado por 57 anos com a professora Maria Cecilia Braga Braile. O casal teve duas filhas, Patricia Braile Verdi, advogada e presidente da Braile Biomédica casada com o matemático Luis Antônio Verdi e Valéria Braile Sternieri, cardiologista fundadora do Instituto Domingo Braile e Diretora Clínica da Beneficência Portuguesa, casada com o engenheiro agrônomo Walter Sternieri Junior. São seus netos o engenheiro Rafael Braile Cunha, a médica Sofia Braile e os acadêmicos de Medicina, Giovanni Braile Sternieri e Luiza Braile Verdi.
Em 2019 foi tema de uma biografia da jornalista Elma Eneida Bassan Mendes intitulada “A Céu Aberto, a História de Domingo Braile, o consertador de corações”.
Acamado há mais de três anos por sequelas de cirurgia na coluna vertebral, o cirurgião lutava contra mais uma pneumonia que, em seu caso, eram recorrentes.
Domingo Braile tinha 81 anos de idade.
Confira a Mensagem do Presidente da SBC, Marcelo Queiroga, ao Eterno Domingo Braile