A influência do gênero nos desfechos cardiovasculares de pacientes internados por IAM
13/06/2023, 16:08 • Atualizado em 21/12/2023, 17:30
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Coorte realizado em Porto Alegre reúne dados de mais de 10 anos para comparar como mulheres e homens são diagnosticados e tratados
Investigar questões que relacionam desfechos cardiovasculares às diferenças de gênero, raça e classe social dos pacientes é essencial para compreender a realidade do tratamento de saúde no Brasil. No quesito do gênero, vários estudos têm mostrado que as mulheres são subdiagnosticadas em comparação aos homens.
Uma coorte recente, realizada a partir de dados de pacientes do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, traz resultados que podem ajudar a compreender o cenário. Trata-se do artigo Diferenças entre os Sexos nos Desfechos de Pacientes com Infarto do Miocárdio com Supradesnivelamento do Segmento ST Submetidos à Intervenção Coronária Percutânea Primária, divulgado na ABC Cardiol, publicação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Esse estudo é um resgate de outros estudos que já fizemos no passado, para avaliar a evolução da tendência, já comprovada, de que a mulher é subtratada e subdiagnosticada por problemas cardiológicos, o que acaba repercutindo em piores desfechos, tanto em mortalidade, quanto em complicações”, explica Carisi Anne Polanczyk, cardiologista, pesquisadora e autora principal do artigo.
Em 2022, a SBC divulgou o Posicionamento sobre a Saúde Cardiovascular nas Mulheres, que faz um levantamento a respeito do tema que é central no estudo conduzido por Carisi: a saúde cardiovascular das mulheres.
“O Posicionamento traz destaque para esse tipo de estudo, ajuda a entender qual é o comportamento e como é feito o manejo das mulheres nos hospitais e instituições do Brasil e como isso se compara com realidades internacionais”, comenta Carisi.
Para o estudo foram avaliados dados de mais de 1400 pacientes, ao longo de dez anos, que foram registrados no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, uma instituição terciária, referência na região para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Os registros informam dados clínicos desde a chegada do paciente, como foi feito o diagnóstico, qual foi o manejo principal, o que aconteceu durante a internação e qual foi o desfecho.
Dentre o grupo analisado, cerca de 34% eram mulheres. Ao comparar os resultados, Carisi e outros pesquisadores envolvidos no estudo identificaram um maior número de mulheres em idade avançada. A idade média das mulheres foi 62,8.
“As mulheres doentes eram um pouco mais velhas, e isso já vem da literatura. Normalmente são pessoas que desenvolvem um pouco mais tarde a doença cardiovascular, com outras comorbidades associadas”, diz Carisi.
A pesquisadora conclui: “o estudo mostra que houve uma evolução no tratamento das mulheres, elas estão sendo tratadas da mesma maneira que os homens e os resultados de mortalidade se assemelham entre elas”.