SBC/DEIC lança revista científica sobre insuficiência cardíaca e miocardiopatias
21/02/2024, 20:29 • Atualizado em 21/02/2024, 20:29
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Publicação trimestral, bilíngue, “ABC Heart Failure & Cardiomyopathy” traz artigos científicos atuais nessas áreas da cardiologia, visando a internacionalização da ciência brasileira
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), por meio do Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC), acaba de lançar a revista “ABC Heart Failure & Cardiomyopathy” (ABC HF) – periódico científico trimestral, bilíngue (português/inglês), que nasce com a missão de divulgar o conteúdo de pesquisas científicas nacionais e internacionais nas áreas de insuficiência cardíaca (IC) e cardiomiopatias; e promover o debate científico nessas áreas respectivas da cardiologia por meio da publicação de editoriais, artigos originais, de revisão, cartas e perspectivas sobre os mais recentes e desafiadores tópicos nas especialidades citadas.
Lançada no seminário internacional on-line realizado no último dia 8 de julho, a nova revista é parte integrante da família Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC Cardiol) – publicação da SBC com mais de 70 anos de existência e consolidada como veículo de divulgação das pesquisas científicas na área das ciências cardiovasculares.
“É um momento histórico para a ciência e a pesquisa brasileiras o lançamento da ABC HF, idealizada há 12 meses, a partir de um sonho do DEIC, que completou 20 anos em 2020, e que representa um robusto legado nas áreas de atividades científicas e de associativismo da cardiologia brasileira, o qual tenho orgulho de estar à frente”, afirmou Evandro Tinoco Mesquita, presidente do DEIC e da Universidade do Coração, da SBC, durante o evento.
Ele destacou que a construção do DEIC foi um marco no enfrentamento da insuficiência cardíaca, um problema que atinge cerca de 3 milhões de brasileiros e mais de 40 milhões de pessoas no mundo, cuja prevalência vem aumentando globalmente, sendo a líder mundial de hospitalização.
Por isso, segundo Mesquita, a pesquisa científica, as boas práticas clínicas e o olhar multidisciplinar exigiram a criação de uma revista como a ABC HF, reunindo aspectos importantes para os profissionais de saúde e pesquisadores nas áreas de IC e miocardiopatia.
“É fundamental universalizarmos o conhecimento e este é o papel deste novo veículo científico, que nasce fazendo parte da gigante ABC Cardiol, da qual tive a honra de ser editor”, destacou o presidente do DEIC, lembrando Carlos Chagas, médico sanitarista, patrono da IC, que teve seu Dia Nacional de Alerta celebrado em 9 de julho.
“Este importante médico transformou a ciência no Brasil e hoje enxergamos a importância da interdependência do conhecimento científico. E o DEIC, inspirado por Chagas, pensou grande ao lançar a ABC HF com o sonho de aproximar a América Latina. Para nós, que acreditamos na ciência, com o apoio da SBC, cremos que a ciência brasileira, da América Latina e mundial irão abraçar esta revista, cujo objetivo é melhorar os cuidados dos pacientes acometidos por insuficiência cardíaca e cardiomiopatias”, salientou Mesquita.
A primeira edição da ABC HF tem 81 páginas, está disponível no site da publicação (abcheartfailure.org) e tem como editora Lídia Zytynski Moura, diretora administrativa do DEIC e professora titular da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Ela explicou que ao longo dás últimas duas décadas, o DEIC percebeu que muitos artigos e estudos que poderiam agregar conhecimento em medicina, ainda mais em cardiologia, não conseguiam espaço para serem publicados. E foi para suprir esta demanda que nasceu a ABC HF.
“Dentro da família ABC Cardiol, queremos transformar o conhecimento e ser o meio de divulgação dessas pesquisas, com a missão de promover o debate e ser vitrine das publicações e da produção nacional e internacional sobre insuficiência cardíaca e cardiomiopatias, além de ser o veículo para esse conhecimento, com o objetivo de ser representativa para América Latina e todos os países que quiserem enviar suas publicações”, esclareceu Lídia.
Além dessas especialidades, a nova ABC HF se propõe a divulgar estudos e pesquisas nas áreas de doenças raras, transplante cardíaco e dispositivos em IC em nível nacional e internacional.
De acordo com Lídia, que também será a editora da segunda edição da revista, referente ao trimestre outubro, novembro e dezembro de 2021, quando um novo editor será eleito, todas as contribuições científicas publicadas são revisadas por pares, por membros do Conselho Editorial e pelos revisores, os quais foram selecionados entre os mais importantes pesquisadores do Brasil e exterior. A aceitação dos trabalhos é feita de acordo com sua relevância e originalidade, acurácia científica e nível de importância para o avanço científico.
“Esperamos, desta forma, contribuir cada vez mais para o desenvolvimento da ciência nacional e internacional, mantendo as premissas de qualidade e ética já consolidadas em nosso Departamento”, salientou a professora.
A ABC HF também vai contar com a participação de membros internacionais da Sociedade Interamericana de Cardiologia (SIAC), instituição que congrega todas as sociedades de cardiologia das Américas, e colocar luz sobre o Grupo de Estudos de Miocardiopatias (GEMIC), presidido por Marcus Vinicius Simões.
“A nova publicação é uma grande oportunidade e eu fico feliz que possamos veicular ciência e conhecimento em miocardiopatias, o que é uma conquista muito significativa, pois, além do vínculo que possui com IC, há muita efervescência em novidades e oportunidades nessa área, por isso é importante que esta nova publicação traga esses temas”, comentou Simões, que no seminário internacional ainda destacou o quanto a medicina personalizada poderá permitir avanços profundos na avalição das doenças e intervenções terapêuticas sob medida, o que trará melhoras aos resultados e redução de custos nos tratamentos das enfermidades, inclusive das miocardiopatias, que largamente têm avançado neste cenário.
Família ABC
Recém-lançada, a ABC Heart Failure & Cardiomyopathy faz parte da família ABC. Criada em 2021, consiste em um conjunto de periódicos das áreas de ciências cardiovasculares, abrangendo atualmente os Arquivos Brasileiros de Cardiologia (ABC Cardiol), International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS) e, agora, a ABC HF, com o objetivo de tornar a principal referência em publicação na América Latina.
O presidente da SBC, Celso Amodeo, informou durante o evento que o ABC Cardiol, publicação mensal da entidade, recebe 1.722 submissões de trabalhos para publicação por ano, sendo encaminhados à SBC mensamente 143 trabalhos, em média. Desses, somente 46 são aprovados para publicação, o que representa que aproximadamente 24,7% dos artigos submetidos são aprovados, isso desde 1948, quando foi publicada a primeira edição da revista científica.
Considerada o principal veículo de divulgação das pesquisas cardiovasculares do Brasil e da América Latina, a publicação recentemente, pela primeira vez na história, atingiu seu maior fator de impacto: 2,0. Isso significa que os artigos publicados pela revista tiveram, em média, duas citações por publicação. A métrica vale para citações que ocorreram em 2020 e considera as edições de dois anos anteriores, portanto, 2018 e 2019.
O editor-chefe do ABC Cardiol e presidente do Departamento de Imagem Cardiovascular (DIC) da SBC, Carlos Eduardo Rochitte, salientou que quanto maior o fator de impacto, mais bem classificada a revista é. Ou seja, trata-se um cálculo que permite classificar as revistas em um ranking. Dessa forma, a publicação mensal da SBC é a revista cardiovascular número um da América Latina, algo nada fácil de se alcançar.
“É preciso desenvolver um trabalho de muita qualidade para gerar citações de pessoas que você nem conhece, de outras revistas, de outros locais do mundo. É um trabalho de toda a comunidade científica da SBC e, principalmente, dos autores e revisores que nos ajudam a selecionar os melhores artigos para serem publicados”, reiterou Rochitte.
Amodeo disse ser importante destacar que grande parte do conteúdo dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia vem das universidades brasileiras, dos programas de pós-graduação, mostrando a importância da publicação para a identificação das doenças e de melhores estratégias de enfrentamento das patologias.
“Mostra ainda a relevância da SBC nas pesquisas clínicas, nos registros, nas estatísticas e na geração e difusão do conhecimento científico, por meio dos nossos congressos, que a partir de 2022 se internacionalizam com a realização do 77º Congresso Brasileiro de Cardiologia, em conjunto com o Congresso Mundial de Cardiologia, liderado pela World Heart Federation (WHF), no Rio de Janeiro, em outubro de 2022, o que será um grande mérito para o Brasil”, destacou o presidente da SBC.
Internacionalização
Rochitte afirmou ser totalmente favorável à internacionalização do conhecimento e disse ser um defensor da colaboração entre as revistas cientificas, por essa ser a única maneira de países, principalmente da América Latina, que não estão na liderança das publicações científicas, como Estados Unidos e Europa, de progredir, pois, apesar do volume ser menor, a qualidade da nossa ciência é muito boa e, muitas vezes, não encontra espaço adequado para a sua publicação e isso é algo que não se pode deixar acontecer.
“Mesmo o ABC Cardiol com os seus 73 anos não é capaz de absorver tudo. É preciso ter esse espaço para que as pesquisas de alto nível, de grande qualidade, potencialmente com ideias inovadoras, encontrem espaço nesta competitiva comunidade cientifica mundial, já que não é fácil publicar um artigo numa revista de alto impacto. Por isso, crescer a família ABC é fortalecê-la”, garantiu o editor-chefe.
Opinião compartilhada por Cláudio Tinoco, editor-chefe do International Journal of Cardiovascular Sciences (IJCS), criado em 2015 pela SBC, que tem 49% dos artigos que lhe são submetidos anualmente aprovados e que, assim como a ABC Cardiol, está disponibilizado nas principais plataformas de publicações científicas mundiais.
Ele comentou que o Brasil é o 13º em produção mundial de artigos científicos, algo muito bom, mas que ainda está abaixo da média global no quesito número de citação por artigo científico. Porém, tem crescido e melhorou em 15% nos últimos cinco anos na questão da qualidade. Por isso, é totalmente convergente com tudo que a ciência e a cardiologia brasileira pensam o lançamento da ABC Heart Failure & Cardiomyopathy.
“Entre 2017 e 2020, foram mais de 573 mil acessos aos documentos do IJCS dentro da plataforma Scielo, gerando 379 citações ao ABC Cardiol. É por isso que as revistas investem tanto nas famílias, porque elas fazem com que as publicações interajam entre si e tornem toda aquela ciência mais visível. A internacionalização e o desenvolvimento de famílias de revistas são passos fundamentais para a solidificação das produções cientifica brasileira”, pontuou Tinoco.
Para o professor Fausto Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e presidente da WHF, o Brasil é um importante aliado na ciência mundial, principalmente na cardiologia, onde tem sido um líder na produção de conhecimento científico.
“O intercâmbio entre os vários grupos de pesquisa na América Latina e até mesmo mundial, principalmente por meio de sua produção acadêmica, faz do Brasil uma referência global, o que se traduz em conteúdo relevante a ser disseminado por meio de suas publicações. Dessa forma, a nova revista ABC HF é mais um relevante periódico da SBC para a qual desejo sucesso”, declarou Fausto.
O presidente da SIAC, Álvaro Liprandi, também exaltou o crescimento da família ABC, destacando a importância do intercâmbio de informação entre as Américas como forma de desenvolver e implementar ciência na área cardiovascular.
“Afinal, o nosso objetivo é melhorar a vida de nossas comunidades, prevenindo as doenças, tratando-as em um trabalho conjunto entre a comunidade médica e a científica”, exaltou Liprandi.