DECAGE News 05 - 2014

31/07/2014, 21:00 • Atualizado em 24/01/2025, 13:02

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MENSAGEM DO PRESIDENTE

Velhinhos “Padrão FIFA”

Tendo a oportunidade de ter assistido os jogos da Copa em Natal, procurei observar, com um “olhar cardiogeriatrico”, os velhinhos estrangeiros que aqui vieram. Idosos de todas as idades, com suas peculiaridades de saúde e, certamente, alguns com o rigoroso controle de seus medicamentos. Na amostragem avaliada destes dias - americanos, coreanos, italianos, egípcios, ganenses, uruguaios, mexicanos, japoneses e, logicamente, brasileiros - mostraram-se ávidos de jovialidade, participando efetivamente de todos os eventos, quer tenha sido nos jogos propriamente ditos, nas comemorações do Fan Fest, nos passeios sob o sol de um clima bem tropical. Do comportamento bem tradicional e eclético dos nipônicos até o festejar incessante e contínuo dos “hermanos mexicanos”, não se registrou nenhuma intercorrencia com os nossos velhinhos.
 
Com esse pequeno “olhar cardiogeriatrico”, é possível imaginar e acreditar que a cardiogeriatria tem contribuído, efetivamente, para uma melhor qualidade de vida e que o horizonte na expectativa da longevidade possa ser mais facilmente alcançável.
 
Com esse estímulo de vida, vamos continuar trabalhando, para amanhã, quem sabe, também fazermos parte de alguma observação e alguém dizer: são velhinhos padrão FIFA.

Josmar de Castro Alves
Presidente DECAGE

História do DECAGE RS - 15 Anos de Fundação

O DECAGE RS surgiu em Agosto de 1999, no Hospital Mãe de Deus, com os pressupostos de ser um veículo de estudo e aprofundamento científico dos profissionais médicos, exercitando o diálogo inter e multidisciplinar com o objetivo de otimizar e humanizar o atendimento do idoso cardiopata.

Os 15 anos de intensa atividade ampliaram estes pressupostos, incluindo programas voltados para o público idoso, com palestras informativas, oficinas culturais, eventos comunitários, que se tornaram marca registrada do DECAGE SBC RS, coroados pela alta adesão e entusiasmo dos participantes.

O DECAGE RS em consonância e inspirado no DECAGE Nacional, participa ativamente nos congressos gaúchos promovidos pela SOCERGS (Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul). A responsabilidade de promover anualmente o Fórum de Cardiogeriatria é um desafio, que se tornou tradição devido ao sucesso dos auditórios sempre lotados e dos intensos e acalorados debates dos participantes.

O Grupo da Cardiogeriatria tem certidão de nascimento assinada pelos sete médicos fundadores do DECAGE RS e tiveram a alegria de serem guindados à condição de Departamento da SOCERGS, reconhecidos pelo dinamismo.

Fundadores do DECAGE RS: Eduardo Pitthan,Elizabeth Rosa Duarte, Cândido Agostinho Pontes da Silva,Aldo Odilon Xavier Vitória,Edson Aranovich,Hilário Wolmeister e Júlio César Portanova da Rocha.

Os objetivos que motivaram a fundação do DECAGE: atividades científicas, atividades comunitárias, interiorização do departamento, promovendo palestras regionais nas Associações Médicas, valorizando e integrando as diversas regiões do Rio Grande do Sul. Estes mesmo objetivos foram enriquecidos pelos laços de amizade e convívio fraterno entre seus participantes, que se revelou uma grata e indispensável surpresa.

Vejam fotos

Eduardo Pitthan (RS)

ESQUINA CIENTÍFICA

Efeitos Pleiotróficos das estatinas no paciente idoso - CLIQUE AQUI
Ronaldo Rosa- SP

Associação entre Depressão e Mortalidade nos pacientes idosos - CLIQUE AQUI
Giselle Diniz – SP

Dor Persistente no Idoso - CLIQUE AQUI
Renato Bandeira de Mello- RS

INFORMES

A Dra. Jessyca Miriam Garcia (PE), coordenará O VI Simpósio DECAGE Norte-Nordeste, durante o 29° Congresso Norte Nordeste de Cardiologia nos dias 14 a 16/08/2014. Confira os abstracts dos trabalhos apresentados no WCC 2014, em Melbourne – Australia pelo Dr. Eduardo Pitthan-RS. Clique aqui.
A Dra. Edna Conter (RS) coordenará o tradicional fórum de Cardiogeriatria que acontecerá durante o Congresso SOCERGS 2014, dia 22/08/14 em Gramado-RS.
Veja a programação.
Conheça a representante do DECAGE-RS. Clique aqui.
Participe do XI Congresso Brasileiro de Cardiogeriatria, em Ouro Preto, Minas Gerais, nos dias 07 e 08 de novembro do corrente ano. Inscreva-se! Visite o site do congresso: www.decage2014.com.br

Depoimento de Edna Conter
Cardiologista na cidade de Pelotas- RS
Presidente do DECAGE-RS
Representante regional do DECAGE nacional

O DECAGE-RS tem realizado reuniões bimensais sobre diabetes, com endocrinologistas como palestrantes, abordando atualizações sobre o tratamento de diabetes no idoso. A Sociedade Gaúcha de Cardiologia tem como uma das metas a interiorização da sociedade e, sendo um dos seus departamentos, o DECAGE-RS tem dado sua contribuição, realizando jornadas no interior. Em 2013, realizamos uma jornada em Pelotas, e neste ano, em abril, foi realizada na cidade de Caxias, com a presença do nosso vice-nacional, Dr. Álvaro Cattani. Temos pré-programada uma jornada para novembro na cidade de Livramento. Faz parte da nossa agenda a realização anual do Fórum de Cardiogeriatria, que ocorre durante o Congresso Gaúcho de Cardiologia. Este ano, teremos vários palestrantes do interior. Acreditamos que o trabalho de interiorização do departamento é uma maneira de divulgar não só o departamento regional, como também o nacional.
Edna Conter
conter.sul@terra.com.br

Esquina Científica

Decage News - 005 (Agosto/2014)

Efeitos Pleiotróficos das estatinas no paciente idoso
Ronaldo Rosa- SP

As estatinas são medicamentos muito conhecidos inicialmente pela sua excelente ação na redução dos níveis de colesterol e de eventos cardio e cerebrovasculares. Mais recentemente foram descritas ações pleiotrópicas e antinflamatórias, explicando parte de seus benefícios clínicos . Todavia, apesar de mais de 20 anos na prática clínica, alguns de seus efeitos ainda vem sendo estudados.

Um desses efeitos muito interessante e promissor é sua ação sobre a enzima telomerase. A telomerase atua na manutenção dos telômeros e sua deficiência está diretamente ligadoao processo deencurtamento e envelhecimento celular. São descritas várias doenças associando a perda da ação da telomerase e o envelhecimento.

A medida que ocorre a divisão celular os cromossomos vão diminuindo seu telômero. Esse “relógio biológico mitótico” nos coloca em rota irreversível de envelhecimento pois na maioria das células somáticas a telomerase não tem ação após o nascimento. Desse modo, os cromossomos vão reduzindo de tamanho a cada divisão celular até que se tornem curtos demais inviabilizando a célula e desencadeando a sua apoptose. Estudos experimentais demonstram que ratos com deficiência de telomerase têm a longevidade diminuída. E o inverso ocorreu quando a telomerase era ativada, com melhora nas funções metabólicas.

Com o objetivo de avaliar o efeito das estatinasem humanos, recente estudo avaliou o efeito de várias estatinas sobre a telomerasee o tamanho dos telômeros. Desse modo, foram avaliados 230 pacientes com idade entre 30 e 86 anos, portadores de dislipidemia. Foram analisados quanto ao sexo, tabagismo, pressão arterial e obesidade. Foram considerados usuários de estatinas aqueles que vinham fazendo uso há pelo menos 3 meses. As estatinas e suas respectivas doses foram as seguintes:rosuvastatina 5 mg, sinvastatina 20 mg e atorvastaina 10 mg.Os efeitos das estatinas foram avaliados através da atividade da telomerase em monócitos do sangue periférico após sua centrifugação. A atividade da telomerase foi medida através de um kit comercial da Roche de PCR-Elisa.

Os resultados mostraram que quem recebeu estatina teve um nível de telomerase superior ao grupo de pacientes que não recebeu. Isso ocorreu independente das variáveis idade, sexo, tabagismo , lipídios , inflamação sistêmica , glicose, e níveis de pressão arterial ( P = 0,019). Além disso, observou-se que com o aumento da idade dos pacientes havia aumento na erosão dos telômeros porém isso foi menos expressivo no grupo que usou estatina, em especial nos mais idosos a (P < 0,0001).

Ainda estamos longe do “elixir da longa vida” dos alquimistas e de outras culturas ao redor do mundo. Todavia, além do estilo de vida saudável (outra utopia dos nossos dias), sabemos que se quisermos retardar o envelhecimento e prolongar nossa vida, um dos caminhos é decifrar detalhadamente a ação da telomerase e aprender como podemos atuar a nosso favor. Entre muitas substâncias que almejam essa posição de destaque, parece que as estatinas podem nos ajudar nesse, ainda, sonho da humanidade.

Ref: Boccardi V, Barbieri M, Rizzo MR, et al (2013) A new pleiotropic effect of statins in elderly: modulation of telomerase activity. FASEB J .September 2013 27:3879-3885.

 

Decage News - 005 (Agosto/2014)

Associação entre Depressão e Mortalidade nos pacientes idosos
Giselle Diniz – SP

Estudos mostram uma forte associação entre depressão e aumento da mortalidade entre pacientes idosos, sobretudo devido à baixa aderência medicamentosa e ao déficit no auto cuidado. Os mecanismos biológicos, sociais, psicológicos e comportamentais que servem de mediadores para a depressão atuar sobre a mortalidade apenas recentemente começaram a serem elucidados.O tratamento da depressão neste grupo pode evitar a depressão maior, melhorar sua qualidade de vida e reduzir a dependência funcional.Sendo a redução da dependência e melhoria da qualidade de vida os objetivos fundamentais do manejo de indivíduos idosos, a depressão deve ser considerada como peça fundamental deste processo. O estudo publicado no British Medical Journal mostrou a importância do tratamento da depressão maior entre pacientes idosos,em atenção primária,a fim de reduzir sua mortalidade. Verificou-se que aqueles que receberam tratamento para depressão apresentaram redução significativa de mortalidade por todas as causas. Desta maneira, a depressão deve fazer parteda avaliação de todo paciente idoso, assim como o profissional de saúde deve estar apto a tratá-la.

Fonte: Gallo, JJ et al. Long term effect of depression care management on mortality in older adults: follow-up of cluster randomized clinical trial in primary care. BMJ 2013;346:f2570.

 

Decage News - 005 (Agosto/2014)

Dor Persistente no Idoso
Renato Bandeira de Mello- RS

O processo de transição demográfica no Brasil está instituído há pelo menos 3 décadas e tem como consequência o rápido envelhecimento populacional. Já somos mais de 20 milhões de idosos, sendo que projeções do IBGE já para 2030 estimam que a população com mais de 60 anos será maior do que a de brasileiros com menos de 15 anos de idade.

Esse grande contingente de idosos compõe o grupo etário mais suscetível a doenças por associação de processos fisiológicos (senescência) e patológicos (senilidade) do envelhecimento. Em virtude disso, apresentam com frequência múltiplas comorbidades, dentre elas a dor persistente ou dor crônica, que erroneamente pode ser atribuída ao envelhecimento em si. A dor está invariavelmente relacionada à doença física ou psicopatológica e se caracteriza pela persistência do sintoma por 3 meses ou mais. Nos idosos a dor pode ter impacto significativo sobre sua funcionalidade para atividades diárias, anormalidades de marcha, risco de quedas e, em situações mais extremas, sobre a capacidade cognitiva.

Trata-se de situação muito prevalente: cerca de 50% dos idosos em geral, alcançando índices superiores a 80% naqueles que residem em instituições de longa permanência para idosos (ILPI). Apesar da alta prevalência e do potencial impacto sobre a saúde e qualidade de vida, essa condição costuma ser subdiagnosticada em cerca de 40% dos idosos, sendo frequentemente subtratada, mesmo em pacientes com neoplasias malignas2.

Sua avaliação deve compreender, além da anamnese e exame físico, a utilização de ferramentas e escalas visuais, porque o idoso costuma sub-relatar o problema ou sua identificação pode ser prejudicada por condições associadas, principalmente o declínio cognitivo. Além de identificar a dor, é fundamental diagnosticar seu fator causal, porque, além da analgesia, o tratamento da doença base é imperativo sempre que possível1.

O manejo da dor deve associar medidas não-farmacológicas (fisioterapia e reabilitação física nos casos de dor osteomuscular, por exemplo) a tratamento medicamentoso. Entretanto, maior precaução deve existir, pois alterações da farmacocinética e farmacodinâmica colocam idosos sob maior risco de efeitos adversos e maior potencial de interação farmacológica. Mesmo diante disso, deve-se ressaltar que os analgésicos e moduladores de dor costumam ser efetivos e seguros a esta faixa etária, quando comorbidades e potenciais fatores de risco são considerados na abordagem de tratamento1.

Em geral, o tratamento medicamentoso da dor crônica deve ser contínuo, sobretudo quando a causa é persistente e progressiva. Abordagens fragmentadas e “se necessário” não são recomendadas de forma isolada. Deve-se iniciar com a menor dose possível, reavaliar a eficácia e progredir a analgesia com brevidade, sendo que a menor dose efetiva é o alvo do tratamento. A utilização de fármacos e esquemas de prescrição que favoreçam a adesão são encorajados, assim como a contínua reavaliação com consequente redução de doses e descontinuação do mesmo sempre que possível. Tais premissas de tratamento são recomendadas pelo programa de avaliação de cuidados do paciente idoso vulnerável (ACOVE Project: http://www.rand.org/health/projects/acove.html).

A prescrição deve privilegiar analgésicos comuns em doses fixas (Paracetamol e Dipirona), tanto isolados como em combinação e, em casos de persistência, associação com opióides é o passo seguinte recomendado. Em situações específicas (dor neuropática, por exemplo) o uso de moduladores de dor e anti-depressivos podem ser indicados. Anti-inflamatórios não-esteróides devem ser evitados sempre que possível, visto seu potencial efeito deletério sobre a função renal, o maior risco de doença cardiovascular e sangramentos do trato gastrintestinal3.

Em conclusão, a dor crônica é frequente entre os idosos, porém sub-relatada, subdiagnosticada e subtratada. A avaliação deve ser ativa e o tratamento contínuo. A causa da dor deve ser identificada e controlada. O tratamento analgésico deve associar medidas não-farmacológicas e medicamentosas. Dar preferência para analgésicos comuns e opióides, tanto isolados como em associação. Sendo que a estratégia de tratamento deve priorizar medidas de mais fácil adesão e maior segurança, buscando a menor dose efetiva, respeitando as comorbidades e demais fármacos em uso pelo idoso.

Referências:
1- AGS: Pharmacological Management of Persistent Pain in Older Persons. JAGS 2009; 57:1331-46
2- Undertreatment of Cancer Pain in Elderly Patientes. Cleeland CS et al. JAMA. 1998;279(23):1914-1915
3- Cardiovascular safety of NSAID´s: network meta-analysis.Trelle S. BMJ 2011 Jan 11;342:c7086

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