DECAGE News 05 - 2014
31/07/2014, 21:00 • Atualizado em 24/01/2025, 13:02
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MENSAGEM DO PRESIDENTE
Velhinhos “Padrão FIFA” Josmar de Castro Alves |
História do DECAGE RS - 15 Anos de Fundação
O DECAGE RS surgiu em Agosto de 1999, no Hospital Mãe de Deus, com os pressupostos de ser um veículo de estudo e aprofundamento científico dos profissionais médicos, exercitando o diálogo inter e multidisciplinar com o objetivo de otimizar e humanizar o atendimento do idoso cardiopata. |
ESQUINA CIENTÍFICA
Efeitos Pleiotróficos das estatinas no paciente idoso - CLIQUE AQUI |
INFORMES
A Dra. Jessyca Miriam Garcia (PE), coordenará O VI Simpósio DECAGE Norte-Nordeste, durante o 29° Congresso Norte Nordeste de Cardiologia nos dias 14 a 16/08/2014. | Confira os abstracts dos trabalhos apresentados no WCC 2014, em Melbourne – Australia pelo Dr. Eduardo Pitthan-RS. Clique aqui. |
A Dra. Edna Conter (RS) coordenará o tradicional fórum de Cardiogeriatria que acontecerá durante o Congresso SOCERGS 2014, dia 22/08/14 em Gramado-RS. Veja a programação. |
Conheça a representante do DECAGE-RS. Clique aqui. |
Participe do XI Congresso Brasileiro de Cardiogeriatria, em Ouro Preto, Minas Gerais, nos dias 07 e 08 de novembro do corrente ano. Inscreva-se! Visite o site do congresso: www.decage2014.com.br |
Depoimento de Edna Conter
Cardiologista na cidade de Pelotas- RS
Presidente do DECAGE-RS
Representante regional do DECAGE nacional
O DECAGE-RS tem realizado reuniões bimensais sobre diabetes, com endocrinologistas como palestrantes, abordando atualizações sobre o tratamento de diabetes no idoso. A Sociedade Gaúcha de Cardiologia tem como uma das metas a interiorização da sociedade e, sendo um dos seus departamentos, o DECAGE-RS tem dado sua contribuição, realizando jornadas no interior. Em 2013, realizamos uma jornada em Pelotas, e neste ano, em abril, foi realizada na cidade de Caxias, com a presença do nosso vice-nacional, Dr. Álvaro Cattani. Temos pré-programada uma jornada para novembro na cidade de Livramento. Faz parte da nossa agenda a realização anual do Fórum de Cardiogeriatria, que ocorre durante o Congresso Gaúcho de Cardiologia. Este ano, teremos vários palestrantes do interior. Acreditamos que o trabalho de interiorização do departamento é uma maneira de divulgar não só o departamento regional, como também o nacional.
Edna Conter
conter.sul@terra.com.br
Esquina Científica
Decage News - 005 (Agosto/2014)
Efeitos Pleiotróficos das estatinas no paciente idoso
Ronaldo Rosa- SP
As estatinas são medicamentos muito conhecidos inicialmente pela sua excelente ação na redução dos níveis de colesterol e de eventos cardio e cerebrovasculares. Mais recentemente foram descritas ações pleiotrópicas e antinflamatórias, explicando parte de seus benefícios clínicos . Todavia, apesar de mais de 20 anos na prática clínica, alguns de seus efeitos ainda vem sendo estudados.
Um desses efeitos muito interessante e promissor é sua ação sobre a enzima telomerase. A telomerase atua na manutenção dos telômeros e sua deficiência está diretamente ligadoao processo deencurtamento e envelhecimento celular. São descritas várias doenças associando a perda da ação da telomerase e o envelhecimento.
A medida que ocorre a divisão celular os cromossomos vão diminuindo seu telômero. Esse “relógio biológico mitótico” nos coloca em rota irreversível de envelhecimento pois na maioria das células somáticas a telomerase não tem ação após o nascimento. Desse modo, os cromossomos vão reduzindo de tamanho a cada divisão celular até que se tornem curtos demais inviabilizando a célula e desencadeando a sua apoptose. Estudos experimentais demonstram que ratos com deficiência de telomerase têm a longevidade diminuída. E o inverso ocorreu quando a telomerase era ativada, com melhora nas funções metabólicas.
Com o objetivo de avaliar o efeito das estatinasem humanos, recente estudo avaliou o efeito de várias estatinas sobre a telomerasee o tamanho dos telômeros. Desse modo, foram avaliados 230 pacientes com idade entre 30 e 86 anos, portadores de dislipidemia. Foram analisados quanto ao sexo, tabagismo, pressão arterial e obesidade. Foram considerados usuários de estatinas aqueles que vinham fazendo uso há pelo menos 3 meses. As estatinas e suas respectivas doses foram as seguintes:rosuvastatina 5 mg, sinvastatina 20 mg e atorvastaina 10 mg.Os efeitos das estatinas foram avaliados através da atividade da telomerase em monócitos do sangue periférico após sua centrifugação. A atividade da telomerase foi medida através de um kit comercial da Roche de PCR-Elisa.
Os resultados mostraram que quem recebeu estatina teve um nível de telomerase superior ao grupo de pacientes que não recebeu. Isso ocorreu independente das variáveis idade, sexo, tabagismo , lipídios , inflamação sistêmica , glicose, e níveis de pressão arterial ( P = 0,019). Além disso, observou-se que com o aumento da idade dos pacientes havia aumento na erosão dos telômeros porém isso foi menos expressivo no grupo que usou estatina, em especial nos mais idosos a (P < 0,0001).
Ainda estamos longe do “elixir da longa vida” dos alquimistas e de outras culturas ao redor do mundo. Todavia, além do estilo de vida saudável (outra utopia dos nossos dias), sabemos que se quisermos retardar o envelhecimento e prolongar nossa vida, um dos caminhos é decifrar detalhadamente a ação da telomerase e aprender como podemos atuar a nosso favor. Entre muitas substâncias que almejam essa posição de destaque, parece que as estatinas podem nos ajudar nesse, ainda, sonho da humanidade.
Ref: Boccardi V, Barbieri M, Rizzo MR, et al (2013) A new pleiotropic effect of statins in elderly: modulation of telomerase activity. FASEB J .September 2013 27:3879-3885.
Decage News - 005 (Agosto/2014)
Associação entre Depressão e Mortalidade nos pacientes idosos
Giselle Diniz – SP
Estudos mostram uma forte associação entre depressão e aumento da mortalidade entre pacientes idosos, sobretudo devido à baixa aderência medicamentosa e ao déficit no auto cuidado. Os mecanismos biológicos, sociais, psicológicos e comportamentais que servem de mediadores para a depressão atuar sobre a mortalidade apenas recentemente começaram a serem elucidados.O tratamento da depressão neste grupo pode evitar a depressão maior, melhorar sua qualidade de vida e reduzir a dependência funcional.Sendo a redução da dependência e melhoria da qualidade de vida os objetivos fundamentais do manejo de indivíduos idosos, a depressão deve ser considerada como peça fundamental deste processo. O estudo publicado no British Medical Journal mostrou a importância do tratamento da depressão maior entre pacientes idosos,em atenção primária,a fim de reduzir sua mortalidade. Verificou-se que aqueles que receberam tratamento para depressão apresentaram redução significativa de mortalidade por todas as causas. Desta maneira, a depressão deve fazer parteda avaliação de todo paciente idoso, assim como o profissional de saúde deve estar apto a tratá-la.
Fonte: Gallo, JJ et al. Long term effect of depression care management on mortality in older adults: follow-up of cluster randomized clinical trial in primary care. BMJ 2013;346:f2570.
Decage News - 005 (Agosto/2014)
Dor Persistente no Idoso
Renato Bandeira de Mello- RS
O processo de transição demográfica no Brasil está instituído há pelo menos 3 décadas e tem como consequência o rápido envelhecimento populacional. Já somos mais de 20 milhões de idosos, sendo que projeções do IBGE já para 2030 estimam que a população com mais de 60 anos será maior do que a de brasileiros com menos de 15 anos de idade.
Esse grande contingente de idosos compõe o grupo etário mais suscetível a doenças por associação de processos fisiológicos (senescência) e patológicos (senilidade) do envelhecimento. Em virtude disso, apresentam com frequência múltiplas comorbidades, dentre elas a dor persistente ou dor crônica, que erroneamente pode ser atribuída ao envelhecimento em si. A dor está invariavelmente relacionada à doença física ou psicopatológica e se caracteriza pela persistência do sintoma por 3 meses ou mais. Nos idosos a dor pode ter impacto significativo sobre sua funcionalidade para atividades diárias, anormalidades de marcha, risco de quedas e, em situações mais extremas, sobre a capacidade cognitiva.
Trata-se de situação muito prevalente: cerca de 50% dos idosos em geral, alcançando índices superiores a 80% naqueles que residem em instituições de longa permanência para idosos (ILPI). Apesar da alta prevalência e do potencial impacto sobre a saúde e qualidade de vida, essa condição costuma ser subdiagnosticada em cerca de 40% dos idosos, sendo frequentemente subtratada, mesmo em pacientes com neoplasias malignas2.
Sua avaliação deve compreender, além da anamnese e exame físico, a utilização de ferramentas e escalas visuais, porque o idoso costuma sub-relatar o problema ou sua identificação pode ser prejudicada por condições associadas, principalmente o declínio cognitivo. Além de identificar a dor, é fundamental diagnosticar seu fator causal, porque, além da analgesia, o tratamento da doença base é imperativo sempre que possível1.
O manejo da dor deve associar medidas não-farmacológicas (fisioterapia e reabilitação física nos casos de dor osteomuscular, por exemplo) a tratamento medicamentoso. Entretanto, maior precaução deve existir, pois alterações da farmacocinética e farmacodinâmica colocam idosos sob maior risco de efeitos adversos e maior potencial de interação farmacológica. Mesmo diante disso, deve-se ressaltar que os analgésicos e moduladores de dor costumam ser efetivos e seguros a esta faixa etária, quando comorbidades e potenciais fatores de risco são considerados na abordagem de tratamento1.
Em geral, o tratamento medicamentoso da dor crônica deve ser contínuo, sobretudo quando a causa é persistente e progressiva. Abordagens fragmentadas e “se necessário” não são recomendadas de forma isolada. Deve-se iniciar com a menor dose possível, reavaliar a eficácia e progredir a analgesia com brevidade, sendo que a menor dose efetiva é o alvo do tratamento. A utilização de fármacos e esquemas de prescrição que favoreçam a adesão são encorajados, assim como a contínua reavaliação com consequente redução de doses e descontinuação do mesmo sempre que possível. Tais premissas de tratamento são recomendadas pelo programa de avaliação de cuidados do paciente idoso vulnerável (ACOVE Project: http://www.rand.org/health/projects/acove.html).
A prescrição deve privilegiar analgésicos comuns em doses fixas (Paracetamol e Dipirona), tanto isolados como em combinação e, em casos de persistência, associação com opióides é o passo seguinte recomendado. Em situações específicas (dor neuropática, por exemplo) o uso de moduladores de dor e anti-depressivos podem ser indicados. Anti-inflamatórios não-esteróides devem ser evitados sempre que possível, visto seu potencial efeito deletério sobre a função renal, o maior risco de doença cardiovascular e sangramentos do trato gastrintestinal3.
Em conclusão, a dor crônica é frequente entre os idosos, porém sub-relatada, subdiagnosticada e subtratada. A avaliação deve ser ativa e o tratamento contínuo. A causa da dor deve ser identificada e controlada. O tratamento analgésico deve associar medidas não-farmacológicas e medicamentosas. Dar preferência para analgésicos comuns e opióides, tanto isolados como em associação. Sendo que a estratégia de tratamento deve priorizar medidas de mais fácil adesão e maior segurança, buscando a menor dose efetiva, respeitando as comorbidades e demais fármacos em uso pelo idoso.
Referências:
1- AGS: Pharmacological Management of Persistent Pain in Older Persons. JAGS 2009; 57:1331-46
2- Undertreatment of Cancer Pain in Elderly Patientes. Cleeland CS et al. JAMA. 1998;279(23):1914-1915
3- Cardiovascular safety of NSAID´s: network meta-analysis.Trelle S. BMJ 2011 Jan 11;342:c7086